O Discurso de Trump e o Ataque aos Direitos Humanos sobre a Ultra-Direita
O Discurso de Trump e o Ataque aos Direitos Humanos sobre a Ultra-Direita
Vanessa Maria de Castro
Psicanalista
Professora da UnB
Brasília, 21 de janeiro de 2025
Os discursos de posse de Donald Trump em 2025 e 2017 não são apenas manifestações retóricas de um político que assume a presidência dos Estados Unidos, mas antes, símbolos de uma agenda autoritária e regressiva que afeta diretamente as conquistas democráticas e os direitos humanos fundamentais. Ao comparar esses dois momentos, é possível observar não apenas a continuidade de uma retórica polarizadora, mas também a intensificação de posturas conservadoras que ameaçam as liberdades civis, a dignidade humana e a igualdade de direitos, com especial impacto nas minorias e nas questões de gênero e raça.
Em 2017, Trump iniciou seu governo com uma retórica agressiva que priorizava a soberania nacional e a segurança, ao mesmo tempo em que desconsiderava as questões sociais e de direitos humanos. Sua crítica ao governo anterior, o confronto com a mídia, e o ataque a direitos conquistados, como a proteção das minorias e dos imigrantes, já indicavam um desprezo pelas normas democráticas. Em seu discurso de 2025, essa postura não só se mantém, mas se radicaliza. Trump reafirma seu compromisso com políticas nacionalistas, da ultra-direita e xenófobas, ataca a diversidade racial e de gênero, e expõe uma visão de sociedade marcada por intolerância e exclusão.
Os Direitos Humanos sob Ameaça
Em 2025, um ponto central do discurso de Trump foi sua afirmação de que somente dois gêneros existem. Essa declaração reflete um posicionamento radical contra os direitos da comunidade LGBTQIA+, que continua a ser sistematicamente atacada por políticas que buscam negar a pluralidade de identidade e expressão de gênero. Trump, ao atacar e excluir essas identidades, afronta não apenas a legitimidade das políticas públicas inclusivas, mas também perpetua a discriminação e o preconceito contra indivíduos que já enfrentam barreiras significativas para garantir o direito à dignidade e ao respeito.
O discurso de posse de Trump em 2025 marca a continuidade de uma agenda que, ao longo dos anos, já causou inúmeros retrocessos nos direitos das mulheres e na luta por igualdade de gênero. Durante seu primeiro mandato, ele reverteu proteções contra a violência doméstica, enfraqueceu políticas de equidade salarial e nomeou juízes conservadores que pavimentaram o caminho para a revogação do direito ao aborto em vários estados. Agora, ao declarar que seu governo reconhecerá apenas dois gêneros e atacar a chamada “engenharia social de gênero e raça”, Trump reafirma sua visão reacionária e sua ofensiva contra direitos historicamente conquistados. Suas palavras não apenas desqualificam décadas de luta feminista, mas também sinalizam um projeto de governo que ignora a violência de gênero e reforça a exclusão de mulheres e pessoas LGBTQIA+ das esferas de poder e decisão. Se antes seus atos já impunham retrocessos, seu novo discurso escancara a intenção de aprofundar esses ataques, consolidando um projeto político que ameaça a dignidade e a liberdade de milhões.
O discurso de Trump sobre gênero se insere em um contexto mais amplo de apagamento e negação das identidades trans e não binárias. A retórica de seu governo insiste em um binarismo de gênero que ignora os avanços científicos e sociais sobre a diversidade das experiências humanas. Além disso, políticas públicas alinhadas a essa visão resultam no enfraquecimento de direitos fundamentais, como o acesso à saúde para pessoas trans, a inclusão dessas identidades no ambiente educacional e a proteção contra discriminação no ambiente de trabalho e na vida pública.
A negação da existência de identidades de gênero diversas também se manifesta em medidas concretas, como a revogação de proteções legais para pessoas trans em instituições federais, a proibição de atletas trans em competições esportivas e a criminalização do acesso a cuidados médicos de afirmação de gênero. Essas ações não apenas dificultam a vida cotidiana das pessoas trans e não binárias, mas também contribuem para o aumento da violência e da marginalização desses grupos.
Esse posicionamento não se limita a questões de gênero. O discurso de Trump também é fortemente racializado, com uma retórica que, ao reafirmar o conceito de grandeza nacional, obscurece os avanços conquistados na luta contra o racismo estrutural. Em 2017, ele já havia demonstrado uma postura de deslegitimização das vozes que clamam por justiça racial, com declarações que absolviam supremacistas brancos e negavam o impacto das políticas históricas de discriminação. Em 2025, o cenário se agrava, com um ataque explícito à diversidade racial e a ação afirmativa como formas de enfrentamento das desigualdades sistêmicas. Ao exaltar um ideal de sociedade "cega para as cores", Trump ignora os impactos históricos do racismo estrutural e promove um discurso que revoga as políticas de reparação e igualdade, enfraquecendo o papel do Estado na promoção da equidade racial.
O Retrocesso das Políticas Públicas e o Avanço da Ultra-Direita
A retórica de Trump é radicalmente anti-democrática, não apenas no tocante às questões de gênero e raça, mas também em relação à proteção social e às liberdades civis. Sua proposta de eliminar direitos conquistados, como o direito ao aborto, a proteção ambiental e o acesso universal à saúde, está intrinsecamente ligada a um projeto de sociedade ultra-conservadora e excluente, onde apenas certos grupos, geralmente os mais poderosos, se beneficiam da prosperidade. Esse retrocesso nas políticas públicas reflete um descompromisso com os direitos humanos e com a justiça social, ao passo que promove uma agenda que favorece os interesses econômicos de elites enquanto margina amplamente as comunidades vulneráveis.
Além disso, o fortalecimento da censura política e o ataque à liberdade de expressão são outras manifestações claras de seu autoritarismo. Em 2025, Trump deixou explícito seu desejo de silenciar qualquer oposição e promover uma visão monolítica da sociedade, onde dissidências e críticas não têm espaço. Esta postura se alinha com o crescente fortalecimento da ultra-direita em outras partes do mundo, cujo impacto é uma erosão das democracias liberais e uma normalização da intolerância. A restrição das liberdades individuais é uma característica comum desses movimentos, que buscam, de forma coordenada, criar um ambiente global de repressão e retrocesso social.
O perigo desse momento, tanto para os Estados Unidos quanto para o mundo, é que a ascensão de uma agenda ultra-direitista pode desestabilizar as normas democráticas, consolidando um modelo de governo autoritário, excludente e regressivo. Isso representa um risco grave não apenas para as minorias sociais, que estão sendo cada vez mais marginalizadas, mas também para a coesão social global. Em um contexto em que países estão cada vez mais conectados, o avanço desse tipo de ideologia ameaça espalhar um vírus de intolerância e desinformação, incentivando regimes autoritários e impondo barreiras à mobilidade social e à solidariedade internacional.
A ascensão de Trump e de líderes semelhantes ao redor do mundo coloca as minorias em uma situação de vulnerabilidade extrema. Seus direitos básicos — à educação, à saúde, à segurança e à liberdade — estão sob constante ataque, e suas vozes são silenciadas pela retórica de ódio que permeia esses discursos. Se essa tendência não for contida, corremos o risco de assistir a uma derrocada global das liberdades individuais, com repercussões irreversíveis para as gerações futuras.
A Resistência Contra o Retrocesso
Os discursos de Donald Trump em 2017 e 2025 revelam não apenas a continuidade de uma agenda ultra-direitista, mas também a radicalização de posturas autoritárias que ameaçam as conquistas democráticas e os direitos humanos fundamentais. A ênfase em um nacionalismo excludente, a negação das identidades de gênero e a abordagem racista e anti-inclusiva que marca seus pronunciamentos são elementos centrais desse retrocesso global. As políticas de discriminação, a revogação de direitos conquistados e a censura às vozes dissonantes indicam um fortalecimento de uma visão de sociedade autoritária, intolerante e regressiva.
Ao atacar as minorias, particularmente a comunidade LGBTQIA+, as mulheres, a população afrodescendente, as comunidades latinas e os povos indígenas - "engenharia social de gênero e raça", Trump e outros líderes ultradireitistas representam uma ameaça não só para os Estados Unidos, mas para o mundo todo. O risco é claro: uma erosão das liberdades civis e uma normalização da intolerância que prejudica as conquistas sociais e ameaça a coesão das sociedades democráticas. Em um momento de crescente interconexão global, essa ideologia pode se espalhar, colocando em risco os direitos humanos e as liberdades individuais que tanto custaram para serem conquistados.
Assim, é imperativo que a resistência a esses movimentos autoritários seja firme e estratégica, visando a preservação das conquistas de justiça, igualdade e liberdade. A luta pela dignidade humana deve continuar a ser um farol contra a onda de retrocessos que ameaça transformar sociedades democráticas em regimes opressores e excludentes. A defesa dos direitos humanos, da diversidade e da igualdade é uma tarefa urgente e global que exige ação contínua para que as liberdades civis não sejam reduzidas a um fragmento de um passado distante.
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