Tempo de Resistir





Tempo de Resistir

Vanessa Maria de Castro

Em tempos sombrios,
Onde as vozes são silenciadas,
Os corpos são abatidos,
Como se fosse um matadouro,
Nas ruas, nas praças e nos becos,
Só há silêncio.

As vozes vão sumindo lentamente,
Restam apenas sussurros,
Não mais os suspiros dos amantes à noite,
Mas o espanto da ausência do grito,
Ausência da indignação,
Ausência do desassossego,
Ausência da coragem,
Ausência da revolta,
Ausência do tumulto,

Onde está você, revolução?
Onde se escondeu?
Por que nos abandonou?
Por que não vem nos visitar?
Por que não arromba a porta e entra?

Saudade dos gritos:
Nas ruas, nas praças e nos becos,
Hoje apenas almas penadas a perambular,
Pelos becos, nas praças e nas ruas,
Andam sem saber para onde:
Desorientados,
Desassossegados,
Desesperados,
Corações gelados de medo:
Medo da morte,
Medo da vida,
Medo do ontem,
Medo do amanhã,
Medo do agora,
Medo do amor,
Medo do sexo,
Medo da dor,
Medo sombrio,
Medo do medo,

A sociedade adormecida e congelada está,
Deitada no berço esplêndido,
Dorme eternamente nos braços do carrasco,
O que pulsa agora é violência:
Violência na fala,
Violência no corpo,
Violência no ser,
Violência nas relações,
Violência no sexo,

A moda agora é violência:
Pelos ruas, nas praças e nos becos,
Estamos vivendo tempos de barbárie,
Até Deus ficou violento,
Será?
Sim, conseguiram transformar,
Deus em seu oposto,

Tempos de violência,
Tempos sombrios,
Tempos sofridos,
Tempos de dor,
Tempos de desamor,
Quanto mais tenebroso é o tempo,
Ele obriga a revelar,
O lado sombrio da alma humana,

Por isso:
Resistir é preciso,
Preciso é resistir.

Vanessa Maria de Castro
(Primavera de 2019, em algum lugar do passado no Brasil)

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