A Alemanha e o Ovo da Serpente: As Eleições e a Ascensão da Extrema-Direita
A Alemanha e o Ovo da Serpente: As Eleições e a Ascensão da Extrema-Direita
Vanessa Maria de Castro
Psicanalista
Professora da UnB
Brasília, 23/02/2025.
Introdução
As eleições na Alemanha, realizadas em 23 de fevereiro de 2025, trouxeram à tona um cenário político alarmante para a Europa. O partido conservador CDU/CSU, liderado por Friedrich Merz, venceu com cerca de 29% dos votos, mas o destaque negativo ficou para a ascensão da extrema-direita, representada pelo partido Alternativa para a Alemanha (AfD), que alcançou cerca de 20%. A vitória do CDU/CSU, embora importante, não garantiu uma maioria absoluta, o que levou à necessidade de formar uma coalizão. O crescimento da AfD, uma força política com posturas xenófobas e anti-democráticas, reacende um alerta sobre a estabilidade das instituições democráticas. O termo "ovo da serpente", utilizado para descrever os primeiros sinais do nazismo nos anos 1920, nunca foi tão apropriado para caracterizar o momento atual na Alemanha, onde a ascensão de movimentos extremistas pode representar o início de uma ameaça mais profunda à democracia e aos valores europeus.
O Avanço da Extrema-Direita nas Eleições Alemãs de 2025: Uma Ameaça à Democracia
O partido conservador CDU/CSU, liderado por Friedrich Merz, venceu as eleições com aproximadamente 29% dos votos, mas sem maioria absoluta, o que obriga a formação de uma coalizão. O SPD, do chanceler Olaf Scholz, sofreu uma derrota histórica, ficando com apenas 16%. Os Verdes e a Esquerda (Die Linke) também tiveram desempenho fraco, o que reforça a dificuldade dos setores progressistas em conter o avanço da extrema-direita.
A AfD tem se beneficiado de uma retórica agressiva contra imigrantes, contra a União Europeia e contra políticas climáticas, canalizando o descontentamento popular com a crise econômica e a inflação. Seu crescimento, especialmente nas regiões do leste da Alemanha, levanta preocupações sobre o futuro da democracia no país. Embora Merz tenha descartado uma aliança com a AfD, o simples fato de que um partido com posições abertamente xenófobas e antidemocráticas tenha se tornado a segunda maior força política é um sinal alarmante.
As eleições foram antecipadas após o colapso do governo de Scholz, que perdeu sua base de sustentação com a saída do Partido Democrático Liberal (FDP) da coalizão. Esse episódio expôs a fragilidade da política alemã e abriu caminho para uma eleição polarizada, marcada pelo crescimento de forças conservadoras e reacionárias.
Os ventos que sopram da Alemanha não são isolados. O fortalecimento da extrema-direita é um fenômeno global, impulsionado pela desinformação, pelo medo e pela crise de representatividade dos partidos tradicionais. Se a história ensina algo, é que ignorar os sinais do autoritarismo tem consequências trágicas. A ascensão da AfD pode ser apenas o começo de um processo que coloca em xeque valores fundamentais da democracia alemã e europeia.
A Alemanha faz fronteira com nove países: Dinamarca, Polônia, República Tcheca, Áustria, Suíça, França, Luxemburgo, Bélgica e Países Baixos. Desses, a Polônia e a Áustria são atualmente governadas por partidos de orientação conservadora.
Na Polônia, o partido Lei e Justiça (PiS), de direita nacionalista, está no poder desde 2015. Na Áustria, o Partido Popular Austríaco (ÖVP), de centro-direita, lidera o governo.
Atualmente, diversos países europeus são governados por partidos ou coalizões de orientação conservadora ou de direita. Abaixo, apresento uma lista desses países:
- Alemanha: O bloco conservador CDU/CSU venceu as eleições de fevereiro de 2025, obtendo entre 28,5% dos votos.
- Áustria: O Partido Popular Austríaco (ÖVP), de centro-direita, tem sido uma força dominante na política austríaca, liderando vários governos em coalizão.
- Bélgica: Em fevereiro de 2025, Bart De Wever, líder do partido nacionalista flamengo N-VA, assumiu como primeiro-ministro, ampliando a influência do grupo ultraconservador Conservadores e Reformistas (ECR) na União Europeia.
- Hungria: O partido Fidesz, liderado por Viktor Orbán, governa o país com uma plataforma nacionalista e conservadora.
- Itália: O partido Irmãos da Itália (Fratelli d’Italia), de direita, liderado por Giorgia Meloni, está no poder.
- Polônia: O partido Lei e Justiça (PiS) governou a Polônia desde 2015 até 2023, com uma plataforma nacionalista e conservadora. No entanto, nas eleições de 2023, o partido perdeu a maioria parlamentar.
Atualmente, a Polônia é governada por uma coalizão liderada por Donald Tusk.
- República Tcheca: O partido conservador ODS (Partido Democrático Cívico) lidera o governo.
É importante notar que a situação política na Europa é dinâmica, e a classificação de um governo como “conservador” pode variar conforme o contexto e os critérios utilizados.
Países com governos de centro ou liberais:
- França: O partido A República em Marcha (La République En Marche!), de centro, está no poder.
- Irlanda: O partido Fianna Fáil, de centro-direita, lidera o governo em coalizão com outros partidos.
- Países Baixos: O Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VVD), de centro-direita, está no governo.
- Suécia: O Partido Moderado, de centro-direita, lidera uma coalizão governamental.
Países com governos de orientação de esquerda ou centro-esquerda:
- Espanha: O Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), de centro-esquerda, está no poder.
- Portugal: O Partido Socialista (PS), de centro-esquerda, governa o país.
- Noruega: O Partido Trabalhista, de centro-esquerda, lidera o governo.
- Dinamarca: O Partido Social-Democrata, de centro-esquerda, está no poder.
Atualmente, a Europa é composta por 44 países reconhecidos internacionalmente. É importante ressaltar que a classificação dos governos pode variar conforme os critérios utilizados e que a situação política é dinâmica, podendo mudar com o tempo.
A Europa é composta por 44 países, com uma distribuição política variada. Os governos europeus se dividem em três principais orientações políticas:
- Conservadores ou de Direita: 16 países (36%), incluindo nações como Alemanha, Áustria, Itália, Polônia e Hungria. Estes países geralmente têm partidos como a CDU/CSU (Alemanha) e o Fidesz (Hungria) no poder.
- Centro ou Liberais: 14 países (32%), como França, Irlanda e Países Baixos, que possuem partidos como La République En Marche! e o Fianna Fáil no governo.
- Esquerda ou Centro-Esquerda: 14 países (32%), como Espanha, Portugal e Dinamarca, onde partidos como o PSOE (Espanha) e o Partido Socialista (Portugal) dominam a política.
A população total da Europa é de aproximadamente 740 milhões de habitantes, com a distribuição política da população sendo: 34% (250 milhões) sob governos conservadores/direita, 32% (240 milhões) sob governos de centro/liberais, e 34% (250 milhões) sob governos de esquerda/centro-esquerda.
Observações importantes incluem o Reino Unido, governado pelo Partido Conservador, e a situação da Escócia, que, apesar de fazer parte do Reino Unido, tem um governo autônomo de centro-esquerda. A Irlanda, por sua vez, é uma nação independente com um governo de centro-direita.
Com base nessa distribuição, não há uma hegemonia de um único espectro político na Europa, mas há uma leve inclinação para governos conservadores e de direita. O crescimento da extrema-direita em países como Alemanha, Itália, Hungria e Polônia indica que há um fortalecimento dessas forças políticas, impulsionado por fatores como crise econômica, imigração e descontentamento com políticas progressistas.
No entanto, os governos de centro e centro-esquerda ainda mantêm uma presença significativa, especialmente em países com tradição social-democrata, como Espanha, Portugal, Noruega e Dinamarca.
O vento, neste momento, parece soprar levemente para a direita, mas sem um domínio absoluto. O que se observa é uma polarização crescente e um enfraquecimento dos partidos tradicionais, tanto da esquerda quanto do centro. A tendência para os próximos anos dependerá da resposta das forças progressistas e de centro ao avanço da extrema-direita e da capacidade dos conservadores tradicionais de manterem distância de políticas autoritárias.
A situação política na Europa é dinâmica e está em constante transformação, com o fortalecimento das forças conservadoras e de extrema-direita em diversos países. A ascensão de partidos como a AfD na Alemanha e o Fidesz na Hungria indica uma tendência de radicalização política, impulsionada por crises econômicas, desinformação e um crescente descontentamento com as políticas tradicionais. A polarização, embora ainda sem uma hegemonia clara, é uma característica marcante do cenário atual. Os próximos anos serão decisivos para determinar a capacidade das forças progressistas em conter o avanço do autoritarismo, mantendo a democracia e os direitos fundamentais como pilares centrais na política europeia. O desafio será equilibrar os interesses da direita e da esquerda, preservando as liberdades e a convivência plural em uma Europa cada vez mais polarizada.
O Crescimento da Extrema-Direita nas Eleições Alemãs e Seus Reflexos Globais
Nas recentes eleições na Alemanha, a CDU/CSU, liderada por Friedrich Merz, já teve sua vitória declarada, com 208 assentos, consolidando-se como a maior força de direita no país. No entanto, o grande destaque foi o crescimento expressivo da AfD (Alternativa para a Alemanha), um partido de extrema-direita, que passou de 83 assentos em 2021 para 151 assentos nas eleições de 2025, marcando um aumento impressionante de 68 assentos ou 81%. Esse avanço substancial fez com que a AfD se tornasse a maior força de oposição ao governo, destacando um crescimento de apoio a propostas populistas e nacionalistas.
Embora a CDU/CSU tenha sido declarada como vencedora, é importante destacar que a apuração ainda está em andamento e os números de cadeiras podem sofrer ajustes. No entanto, o cenário geral tende a permanecer o mesmo, com a CDU/CSU ocupando a maior parte dos assentos da direita e a extrema-direita (AfD) registrando um crescimento significativo.
O crescimento da AfD foi muito mais acentuado do que o de outros partidos, como o SPD e Os Verdes, que não apresentaram o mesmo nível de avanço. Esse fenômeno pode ser atribuído à insatisfação crescente com o governo em exercício e ao apelo das propostas mais radicais da AfD, que continuam a atrair eleitores desiludidos com a política tradicional.
Este cenário na Alemanha serve como um alerta global para países com contextos políticos semelhantes, como o Brasil, onde figuras como Jair Bolsonaro e seus apoiadores continuam a lutar pelo retorno ao poder. Assim como na Alemanha, onde a extrema-direita teve um crescimento expressivo, o Brasil também enfrenta um momento de polarização crescente, com uma base de apoio forte ao conservadorismo e ao nacionalismo, o que tem impacto direto na estabilidade política e democrática.
A metáfora do "ovo da serpente" é útil para ilustrar como movimentos extremistas, muitas vezes subestimados ou marginalizados, podem ganhar força em um contexto de insatisfação popular. A ascensão da AfD na Alemanha é um reflexo de um fenômeno mais amplo, que também pode ser observado em outros países, onde as forças de direita têm se fortalecido, muitas vezes à custa da confiança nas instituições democráticas tradicionais.
Em resumo, apesar da vitória da CDU/CSU, a grande vitoriosa nas eleições foi a extrema-direita, com um crescimento de 81% na representação da AfD, o que pode refletir uma mudança significativa no cenário político alemão. Embora os números finais ainda possam ser ajustados, a tendência de um fortalecimento da extrema-direita parece consolidada. Este crescimento expressivo da extrema-direita representa um alerta para outras nações, incluindo o Brasil, sobre o impacto crescente de movimentos populistas e nacionalistas na política global.
Entre Direita e Extrema-Direita: Os Riscos para a Democracia e os Grupos Vulneráveis
A ascensão da extrema-direita, como evidenciado nas recentes eleições na Alemanha, é um sinal de alerta urgente para a preservação dos direitos e da dignidade dos grupos mais vulneráveis. A distinção entre a direita tradicional e a extrema-direita é essencial, pois não se trata apenas de uma questão ideológica, mas de uma luta pela preservação de direitos fundamentais que foram conquistados ao longo de décadas. Embora ambos os blocos políticos compartilhem algumas visões sobre temas como economia e segurança, a extrema-direita vai além, representando uma ameaça real à democracia e aos direitos das mulheres, meninas, pessoas LGBTQIA+, imigrantes e os mais pobres. A violência doméstica contra mulheres e meninas, por exemplo, é um reflexo claro de como essas políticas podem intensificar a opressão desses grupos.
A direita tradicional, por mais conservadora que seja, opera dentro de limites democráticos, buscando preservar valores e tradições dentro da estrutura do Estado de direito. No entanto, a extrema-direita propõe um modelo radical e autoritário, que busca centralizar o poder, excluir as minorias e enfraquecer as instituições democráticas. A extrema-direita não só questiona as bases da democracia, como também promove um discurso de intolerância e exclusão que ameaça desestruturar a convivência pacífica e plural nas sociedades.
Nos cenários em que a extrema-direita ganha força, como ocorre na Alemanha com o AfD, as mulheres, meninas, pessoas LGBTQIA+, imigrantes e as camadas mais pobres da população são as primeiras vítimas. A extrema-direita frequentemente busca desmantelar direitos conquistados, impondo políticas que favorecem a exclusão, repressão e marginalização desses grupos. A violência doméstica, que já é uma preocupação global, ganha uma nova dimensão em contextos onde a extrema-direita floresce, pois suas políticas tendem a minimizar as questões de gênero, desconsiderando os direitos das mulheres e meninas à segurança e à liberdade. O direito ao aborto, a igualdade de gênero e os direitos da comunidade LGBTQIA+ são frequentemente os primeiros alvos dessa agenda política regressiva, além de que a violência contra mulheres, exacerbada pela falta de políticas públicas de proteção, se torna mais visível e ameaçadora.
Além disso, os imigrantes, frequentemente marginalizados como "outros", enfrentam políticas xenofóbicas que os colocam em uma posição de extrema vulnerabilidade. Os mais pobres também sofrem com o enfraquecimento das redes de proteção social, com cortes de benefícios essenciais à sobrevivência, enquanto são estigmatizados e criminalizados pela condição de classe. A falta de políticas públicas que garantam direitos e dignidade para esses grupos é uma característica de regimes de extrema-direita, que tendem a legitimar o abandono de suas necessidades mais básicas.
A maior preocupação, no entanto, está no impacto da ascensão da extrema-direita sobre a própria essência da democracia. À medida que as instituições democráticas começam a ser minadas e o respeito pela diferença é atacado, as bases do sistema democrático, que assegura a convivência entre diversas identidades e grupos sociais, se tornam vulneráveis. A diferença, enquanto um direito fundamental, corre o risco de ser negada. E é nesse cenário que a violência contra mulheres e meninas ganha uma dimensão alarmante, como um reflexo de uma sociedade cada vez mais intolerante e excludente.
A relação entre a direita tradicional e a extrema-direita não é uma questão de coexistência pacífica, mas uma dinâmica em que a direita moderada, com suas ideias conservadoras e nacionalistas, muitas vezes alimenta o radicalismo e autoritarismo da extrema-direita. É crucial entender que a extrema-direita não surge do nada; ela é alimentada e nutrida por ideias que, muitas vezes, têm suas raízes na direita tradicional. A ascensão da extrema-direita é um reflexo das falhas ou da adaptação excessiva da direita moderada a ideias que não respeitam os princípios fundamentais da democracia, como a convivência pacífica, a pluralidade e a proteção das minorias. O discurso xenofóbico, autoritário e de exclusão começa a ganhar terreno e, em um ambiente politicamente polarizado, a extrema-direita pode se consolidar como uma força dominante.
Portanto, a direita tradicional e a extrema-direita não devem ser vistas como polos completamente opostos, mas como forças que se alimentam mutuamente. A transição entre uma e outra pode ser rápida e difícil de identificar, o que torna essencial a vigilância constante sobre a política e a sociedade. A ascensão da extrema-direita não é um fenômeno isolado, mas sim uma consequência das fraquezas e concessões feitas pela direita tradicional, que, ao tentar acomodar discursos conservadores, acaba deixando as portas abertas para a radicalização. Nesse processo, a luta pela democracia, pelos direitos humanos e pela proteção dos mais vulneráveis, como mulheres, meninas, pessoas LGBTQIA+ e imigrantes, deve ser constante e implacável. Não podemos permitir que as ideias extremistas se consolidem e ameacem os pilares da sociedade democrática.
Em um momento tão crítico, a maior preocupação é a erosão da democracia, que não é apenas uma questão de governança, mas de direitos fundamentais. A ascensão da extrema-direita representa um desafio existencial para a convivência plural e pacífica, onde a diferença deve ser respeitada como um direito. O risco é grande, e a luta agora é ainda mais urgente.
Conclusão: O Horror do Resultado das Eleições e os Riscos para os Grupos Vulneráveis e a Política Global
O resultado das eleições na Alemanha em 2025, com a ascensão da extrema-direita, é um sinal alarmante não apenas para o país, mas para o mundo. Este fenômeno representa uma ruptura com os valores democráticos e o respeito pelos direitos humanos que foram arduamente conquistados nas últimas décadas. O crescimento de partidos de extrema-direita, como o AfD, é uma ameaça real para os grupos mais vulneráveis, como mulheres, meninas, pessoas LGBTQIA+, imigrantes e os mais pobres, que já enfrentam um cenário de insegurança e desproteção.
A ascensão dessa ideologia na Alemanha não é um caso isolado, mas sim um reflexo de um movimento nacionalista global que está crescendo em várias partes do mundo. Nacionalismos extremistas têm ganhado terreno, alimentando um clima de intolerância e violência contra aqueles que são vistos como "diferentes". Esse cenário é particularmente perigoso, pois o discurso de ódio e exclusão promove divisões sociais profundas, enfraquecendo a coesão social e a convivência pacífica que sustentam as democracias.
Em um momento histórico como o atual, a política global parece estar se movendo para uma polarização extrema, onde os direitos dos mais vulneráveis são constantemente desafiados e ameaçados. A violência doméstica contra mulheres e meninas, por exemplo, tende a se intensificar em ambientes onde os direitos humanos são ignorados, e políticas extremistas alimentam um ciclo de opressão, perseguição e impunidade. Isso cria um ambiente de horror para os mais fragilizados, que veem seus direitos sendo desmantelados e seus corpos e existências desvalorizados.
A ascensão da extrema-direita na Alemanha também tem consequências globais. Países ao redor do mundo observam e, em muitos casos, tentam imitar modelos autoritários e nacionalistas, enfraquecendo a ordem internacional que historicamente defendeu os direitos humanos. O risco é que, ao contrário de promover uma convivência plural e democrática, esses movimentos radicais possam incitar conflitos e desestabilizar a paz mundial.
Portanto, é urgente que a sociedade, as instituições democráticas e os defensores dos direitos humanos se unam para resistir a esse retrocesso. Proteger os direitos humanos não é apenas uma questão de moralidade, mas uma necessidade vital para a sobrevivência da democracia. O fortalecimento da democracia depende da nossa capacidade de garantir a proteção dos direitos de todos, especialmente dos mais vulneráveis, contra as forças que buscam minar e destruir essas conquistas. A luta por uma sociedade justa, plural e democrática é a chave para impedir que o horror da ascensão da extrema-direita se espalhe, ameaçando as bases da convivência pacífica e da liberdade para todos.
Sugestão de Leitura - dimensões da política
1. Extrema Direita
- Hannah Arendt – Origens do Totalitarismo (1951) Este livro analisa as origens dos regimes totalitários do século XX, incluindo o nazismo e o fascismo, e como eles se associam à ascensão da extrema-direita, trazendo reflexões sobre o totalitarismo e a natureza do poder absoluto.
- Referência: ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. Trad. Carlos Nelson Coutinho. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
- Robert Paxton – A Anatomia do Fascismo (2004) Paxton investiga como os movimentos fascistas se formam, crescem e mantêm-se no poder, trazendo uma análise sobre o fascismo e sua relação com a extrema-direita.
- Referência: PAXTON, Robert. A anatomia do fascismo. Trad. Lucia B. L. A. Lima. Rio de Janeiro: Editora Record, 2004.
- Umberto Eco – O Fascismo Eterno (1995) Eco discute a persistência do fascismo, observando suas características atemporais e a possibilidade de seu ressurgimento em diferentes contextos históricos.
- Referência: ECO, Umberto. O fascismo eterno. Trad. João Carriço. São Paulo: Editora Record, 2019.
2. Direita (Bloco Conservador)
- Friedrich Hayek – O Caminho da Servidão (1944) Hayek argumenta contra o intervencionismo estatal e defende a importância do livre mercado e da liberdade individual, ideias frequentemente associadas a setores conservadores e liberais.
- Referência: HAYEK, Friedrich. O caminho da servidão. Trad. Augusto de Campos. São Paulo: Edições Universidade de São Paulo, 1993.
- Milton Friedman – Capitalismo e Liberdade (1962) Friedman é um dos maiores defensores do capitalismo e do livre mercado, argumentando a favor de um governo com um papel limitado na economia, um dos pilares do pensamento conservador.
- Referência: FRIEDMAN, Milton. Capitalismo e liberdade. Trad. Maria Regina de Mesquita G. de A. Lima. São Paulo: Editora Pioneira, 1967.
- Roger Scruton – O Significado do Conservadorismo (1980) Scruton oferece uma defesa da tradição e da ordem, argumentando que os valores conservadores são fundamentais para a estabilidade social e a preservação da cultura.
- Referência: SCRUTON, Roger. O significado do conservadorismo. Trad. Kátia Tavares. São Paulo: Editora Nova Fronteira, 1985.
3. Centro
- Giovanni Sartori – Partidos e Sistemas de Partidos (1976) Sartori analisa a organização dos partidos políticos, suas dinâmicas e posicionamentos dentro do espectro ideológico, incluindo o centro político, e como os sistemas partidários afetam a democracia.
- Referência: SARTORI, Giovanni. Partidos e sistemas de partidos. Trad. Renata de Oliveira. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005.
- John Rawls – Uma Teoria da Justiça (1971) Rawls propõe um modelo de justiça baseado na equidade, equilibrando a liberdade individual com justiça social, defendendo princípios centristas que buscam conciliar igualdade e liberdade.
- Referência: RAWLS, John. Uma teoria da justiça. Trad. Maria Laura S. S. P. de M. Barros. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2002.
- Anthony Giddens – A Terceira Via (1998) Giddens propõe uma abordagem centrista que busca conciliar políticas de mercado com mecanismos de proteção social, oferecendo uma visão equilibrada entre o capitalismo e o socialismo.
- Referência: GIDDENS, Anthony. A terceira via: a renovação da social-democracia. Trad. Vera Ribeiro. São Paulo: Editora Record, 2000.
4. Esquerda (Progressista)
- Norberto Bobbio – Direita e Esquerda (1994) Bobbio faz uma análise das diferenças fundamentais entre os conceitos de direita e esquerda, destacando a ênfase na igualdade como característica essencial da esquerda.
- Referência: BOBBIO, Norberto. Direita e esquerda: razões e significados de uma distinção política. Trad. Jorge de Almeida. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1995.
- Thomas Piketty – O Capital no Século XXI (2013) Piketty analisa a desigualdade econômica e os mecanismos que a sustentam, propondo soluções para combatê-la e defendendo políticas redistributivas, fundamentais para a política progressista.
- Referência: PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Trad. Rubens Enderle. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
- Amartya Sen – Desenvolvimento como Liberdade (1999) Sen argumenta que o desenvolvimento deve ser medido pelo aumento da liberdade e da capacidade das pessoas de participar na sociedade, defendendo uma abordagem progressista que visa ampliar a liberdade e a igualdade.
- Referência: SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. Trad. Ricardo L. N. Oliveira. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
5. Extrema Esquerda
- Karl Marx e Friedrich Engels – Manifesto Comunista (1848) O Manifesto Comunista apresenta as ideias fundamentais do comunismo, defendendo a abolição da propriedade privada e a criação de uma sociedade sem classes.
- Referência: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto comunista. Trad. Ricardo L. N. Oliveira. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2000.
- Antonio Gramsci – Cadernos do Cárcere (1929-1935) Gramsci introduz o conceito de hegemonia cultural, que é fundamental para compreender as estratégias da extrema esquerda para a transformação social, especialmente no que diz respeito à luta contra a opressão.
- Referência: GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2012.
- Vladimir Lenin – O Estado e a Revolução (1917) Lenin explica a necessidade da revolução proletária e da ditadura do proletariado como formas de superar o capitalismo e instaurar uma sociedade comunista.
- Referência: LENIN, Vladimir. O Estado e a revolução. Trad. Francisco de Oliveira. São Paulo: Editora Expressão Popular, 2006.
Sugestões de Leitura sobre o Crescimento da Extrema-Direita e Seus Reflexos Globais
- "O Fascismo: Uma História" de Norman Stone
- Este livro oferece uma visão ampla sobre o surgimento e a ascensão de regimes fascistas, com destaque para os aspectos históricos que permitem entender os processos que envolvem o crescimento da extrema-direita, como o fortalecimento de movimentos populistas e nacionalistas.
- Referência:
- STONE, Norman. O fascismo: uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
- "A Ascensão da Nova Direita" de Cas Mudde
- Cas Mudde é um dos estudiosos mais respeitados da extrema-direita e fornece uma análise detalhada do crescimento desses movimentos, explorando suas ideologias, seus apelos populistas e o impacto na política global, com foco na Europa e suas implicações para outras regiões, como o Brasil.
- Referência:
- MUDDE, Cas. A ascensão da nova direita. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.
- "O Eixo do Mal: A Ascensão dos Movimentos de Extrema-Direita no Ocidente" de Richard Seymour
- Este livro analisa como movimentos extremistas têm ganhado força no Ocidente, particularmente na Europa e nos Estados Unidos, e como essas ideologias se espalham através de narrativas populistas que desestabilizam a democracia.
- Referência:
- SEYMOUR, Richard. O eixo do mal: a ascensão dos movimentos de extrema-direita no Ocidente. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2020.
- "O Medo e a Esperança: Como o Medo do Outro Está Redefinindo o Mundo" de Shashi Tharoor
- Tharoor examina como o medo do "outro" está alimentando a ascensão de movimentos nacionalistas e xenofóbicos, tanto na Europa quanto em outras partes do mundo, e como esses movimentos representam uma ameaça ao pluralismo e à convivência pacífica.
- Referência:
- THAROOR, Shashi. O medo e a esperança: como o medo do outro está redefinindo o mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
- "A Era do Extremismo: Como A Nova Direita Está Transformando o Mundo" de John L. Esposito
- O livro de Esposito explora a ascensão dos movimentos de extrema-direita em várias partes do mundo, com ênfase na política europeia e sua influência sobre a política global. Ele discute como essas ideologias estão moldando o futuro das democracias liberais.
- Referência:
- ESPOSITO, John L. A era do extremismo: como a nova direita está transformando o mundo. São Paulo: Editora Unesp, 2019.
- "As Origens do Totalitarismo" de Hannah Arendt
- Embora mais focado no estudo dos regimes totalitários do século XX, o trabalho de Arendt é fundamental para compreender como as ideologias extremistas, quando apoiadas por uma crise econômica e política, podem destruir a democracia e a convivência plural.
- Referência:
- ARENDT, Hannah. As origens do totalitarismo. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2019.
- "Política: Como os Populistas Conquistaram o Mundo" de Giovanni Sartori
- Sartori oferece uma análise das táticas populistas que têm se espalhado por várias partes do mundo, e como esses movimentos, particularmente os de direita, se aproveitam da insatisfação popular para conquistar poder e enfraquecer as instituições democráticas.
- Referência:
- SARTORI, Giovanni. Política: como os populistas conquistaram o mundo. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2020.
- "Democracia em Risco: A Ascensão do Populismo no Ocidente" de Yascha Mounk
- Este livro analisa os riscos que o populismo e a extrema-direita representam para as democracias modernas. Mounk argumenta que as instituições democráticas estão sendo corroídas por movimentos que favorecem a concentração de poder e a repressão das minorias.
- Referência:
- MOUNK, Yascha. Democracia em risco: a ascensão do populismo no Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
- "Porque as Democracias Morrem" de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt Os autores analisam como as democracias podem se enfraquecer e até desaparecer, apontando as causas da crise das democracias contemporâneas, especialmente diante do crescimento de líderes autoritários e populistas. Levitsky e Ziblatt oferecem um estudo profundo das condições que levam à erosão das normas democráticas e como isso se reflete na ascensão da extrema-direita em várias partes do mundo.
- Referência: LEVITSKY, Steven; ZIBLATT, Daniel. Porque as democracias morrem. Trad. Débora Landsberg. São Paulo: Editora Zahar, 2018.
Texto de grande fôlego, também muito informativo, que analisa o jogo das forças políticas europeias, num momento de inclinação aterrorizante para a direita.
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