Gaston Bachelard (1884–1962): Vida, Obra e Legado na Filosofia da Ciência

 

Gaston Bachelard (1884–1962): Vida, Obra e Legado na Filosofia da Ciência

Vanessa Maria de Castro 

Brasília, 05 de outubro de 2025

1. Introdução

Gaston Bachelard foi um filósofo e epistemólogo francês cuja obra influenciou profundamente a filosofia da ciência, a educação, a literatura e a psicologia. Nascido em Bar-sur-Aube em 27 de junho de 1884, em uma família de classe média, Bachelard iniciou sua trajetória acadêmica como físico, obtendo doutorado em Física em 1927. A experiência com ciências naturais forneceu-lhe uma base sólida para refletir sobre os processos de construção do conhecimento, permitindo-lhe formular conceitos inovadores como obstáculos epistemológicos e ruptura epistemológica (Bachelard, 1938, 1940).

A obra de Gaston Bachelard (1884-1962) oferece ferramentas intelectuais relevantes para a pesquisa em Direitos Humanos, especialmente quando se considera a necessidade de reflexão crítica, diálogo intercultural e abertura para saberes diversos. Sua filosofia do “não” — articulada por Pedro Demo (2025) — enfatiza que o conhecimento científico e a prática emancipatória avançam por rupturas, questionamentos e superações de obstáculos epistemológicos.

Neste contexto, a epistemologia bachelardiana permite aos pesquisadores reconhecer a historicidade e a pluralidade do conhecimento, evitando a reprodução acrítica de dogmas ou certezas absolutas. Em Direitos Humanos, isso se traduz na capacidade de questionar normas, práticas jurídicas e discursos consolidados, promovendo uma postura crítica diante de estruturas de poder, desigualdades e exclusões.

O presente ensaio visa apresentar uma análise abrangente da vida e obra de Bachelard, destacando suas contribuições para a epistemologia histórica, a relação entre ciência e poética, o diálogo com a psicanálise, bem como sua influência em autores posteriores e a recepção crítica de sua obra. Além disso, serão discutidas as aplicações contemporâneas de suas ideias na educação e pesquisa científica.


2. Vida e Formação

Bachelard nasceu em um contexto familiar relativamente simples, filho de um funcionário público, e desde cedo demonstrou interesse pelas ciências. Lecionou Física em diversas instituições antes de se dedicar integralmente à filosofia da ciência (Gispert, 2005). Essa formação científica foi determinante para o desenvolvimento de sua epistemologia, pois proporcionou-lhe uma visão interna da prática científica e dos desafios do conhecimento.

Casado e de vida pessoal reservada, Bachelard dedicava-se intensamente à pesquisa e à escrita. Faleceu em 21 de outubro de 1962, em Paris, deixando um legado duradouro que combina rigor científico e sensibilidade poética. Seu contexto histórico, marcado pelas transformações sociais, políticas e científicas da França, incluindo a revolução da física moderna e as duas Guerras Mundiais, moldou sua atenção à história do conhecimento e à análise crítica das ideias pré-concebidas (Barros, 2010).


3. Principais Contribuições Filosóficas de Bachelard

3.1 Obstáculos Epistemológicos

Um dos conceitos centrais na obra de Bachelard é o de obstáculos epistemológicos, que se referem a ideias ou crenças prévias que dificultam o avanço do conhecimento científico (Bachelard, 1938). Essas concepções podem ser intuitivas ou historicamente construídas, como a crença de que a luz se comporta apenas como partícula ou que a Terra é plana. Superar esses obstáculos é fundamental para a construção do conhecimento científico, processo que exige ruptura com concepções anteriores e análise crítica das próprias ideias.

3.2 Ruptura Epistemológica

A ruptura epistemológica, conceito central na filosofia de Gaston Bachelard, descreve o avanço do conhecimento científico como resultado de saltos conceituais e substituição de teorias, e não de simples acumulação de fatos. Para Bachelard, o conhecimento não progride de maneira linear; ele é marcado por descontinuidade, superação de obstáculos e reformulação de conceitos previamente estabelecidos (Bachelard, 1938).

A ruptura epistemológica exige que o pesquisador questione ideias cristalizadas e paradigmas consolidados, identificando os chamados obstáculos epistemológicos, que podem ser psicológicos — hábitos de pensamento, intuições ou crenças arraigadas — ou epistemológicos — conceitos e teorias que se tornaram dogmáticos dentro de uma disciplina. Ao superar essas barreiras, o conhecimento se renova, permitindo a emergência de concepções mais adequadas à realidade investigada.

Um exemplo clássico é a transição da física newtoniana para a física relativística de Einstein. A física de Newton descrevia o movimento e a gravitação com extrema precisão para muitas situações, mas não conseguia explicar fenômenos envolvendo altas velocidades ou campos gravitacionais intensos. A teoria da relatividade não apenas acrescentou novos dados, mas substituiu completamente certos conceitos de espaço, tempo e causalidade, demonstrando como paradigmas anteriores precisam ser superados para que o conhecimento avance. Outro exemplo é a teoria quântica, que rompeu com o determinismo clássico, mostrando que a realidade microscópica requer uma abordagem probabilística e conceitual diferente da experiência cotidiana.

A influência de Bachelard se estende a outros pensadores que reconheceram a importância das rupturas no desenvolvimento do saber. Gaston Berger enfatizou que a ciência progride por transformações radicais, e Michel Foucault destacou que mudanças epistemológicas profundas — ou “epistemes” — reconfiguram os modos de produção do conhecimento em períodos históricos específicos (Berger, 1956; Foucault, 1966).

3.3 Epistemologia da Imaginação e Poética

Bachelard desenvolve a epistemologia da imaginação para mostrar que a ciência não se constrói apenas por meio da razão lógica e da observação empírica, mas também por processos imaginativos e poéticos que estruturam o pensamento. Para ele, imagens, metáforas e sonhos não são meramente literários ou subjetivos, mas exercem função cognitiva: modelam hipóteses, orientam experimentos e ajudam o cientista a conceber possibilidades além da percepção imediata.

Em obras como A Água e os Sonhos (1942) e O Ar e os Sonhos (1943), Bachelard investiga como elementos naturais evocam imagens poéticas que influenciam o pensamento científico. Por exemplo, a água é associada a sonhos de fluidez, transformações e profundidade, enquanto o ar sugere leveza, movimento e expansão. Essas imagens permitem ao pesquisador imaginar fenômenos não diretamente observáveis, criando analogias que inspiram a formulação de teorias e a construção de modelos.

Já em A Poética do Espaço (1957), Bachelard desloca o foco para o cotidiano e a experiência sensível do espaço, mostrando que a imaginação molda a percepção e a compreensão do mundo. Casas, quartos, sótãos e cantos não são apenas lugares físicos: eles evocam experiências, memórias e imagens poéticas que podem influenciar como pensamos e compreendemos a realidade. Esse processo é central para a criatividade científica, pois a mente científica se constrói na intersecção entre observação rigorosa e imaginação estruturante.


3.4 O “Não” Epistemológico

O princípio do “não” em Bachelard não é uma simples negação, mas um instrumento de crítica criativa. Todo avanço científico exige superar concepções anteriores, confrontando crenças enraizadas e desafiando o senso comum. Para pesquisadores em Direitos Humanos, isso implica questionar categorias jurídicas estabelecidas, práticas sociais normativas e discursos hegemônicos, reconhecendo a necessidade de transformação contínua das estruturas sociais e jurídicas.

Pedro Demo (2025) amplia essa reflexão ao destacar que a diversidade de pensamento é crucial para soluções efetivas frente a problemas complexos. Assim, incorporar perspectivas diversas — incluindo vozes marginalizadas e saberes subalternos — fortalece a pesquisa em Direitos Humanos, prevenindo a reprodução de vieses epistemológicos e sociais.

3.5 Interdisciplinaridade e Diálogo com Outras Formas de Saber

Bachelard insiste que o conhecimento científico não é hermético; ele se constrói em diálogo com outras formas de saber, como a filosofia, a poesia e tradições locais. Em termos epistemológicos, isso significa que nenhuma disciplina possui monopólio sobre a compreensão da realidade. No campo dos Direitos Humanos, essa perspectiva é essencial: valoriza saberes comunitários, experiências subjetivas e práticas culturais que frequentemente são desconsideradas pelo conhecimento jurídico ou científico convencional.

Por exemplo, a oralidade e as tradições de diferentes comunidades podem trazer narrativas e valores que desafiam a lógica normativa tradicional. Incorporar esses saberes permite uma pesquisa mais inclusiva, crítica e socialmente responsável, rompendo com visões reducionistas e centralizadas do conhecimento.

3.6 Autocrítica e Formação Ética do Pesquisador

Para Gaston Bachelard, o conhecimento científico não é uma simples acumulação de fatos; ele se constrói sobre o reconhecimento dos próprios erros, limitações e preconceitos do pesquisador. Bachelard fala em “obstáculos epistemológicos”, que são barreiras internas — como hábitos de pensamento, crenças arraigadas e ideias preconcebidas — que podem impedir a percepção correta dos fenômenos. Superar esses obstáculos não é apenas uma questão técnica, mas uma exigência ética, pois o conhecimento produzido deve ser rigoroso, confiável e responsável.

A autocrítica bachelardiana exige que o pesquisador:

  1. Reconheça suas próprias limitações cognitivas e culturais: toda observação e interpretação está mediada pelo olhar do pesquisador, que traz consigo contextos sociais, culturais e subjetivos.

  2. Questione pressupostos e paradigmas cristalizados: a produção de conhecimento exige ruptura com ideias consolidadas que podem distorcer ou restringir a compreensão da realidade.

  3. Adote postura ética e reflexiva: reconhecer o próprio viés é fundamental para evitar reproduzir desigualdades ou injustiças na pesquisa, especialmente em campos sensíveis como os Direitos Humanos, nos quais a vida, a dignidade e a experiência de pessoas e comunidades estão diretamente em jogo.

Em termos práticos, a abordagem bachelardiana conecta ética e epistemologia: a reflexão autocrítica não é apenas moral, mas também epistemológica. Um pesquisador que ignora seus preconceitos ou limitações corre o risco de produzir conhecimento parcial, enviesado ou injusto. Ao contrário, a autocrítica sistemática permite que o conhecimento seja mais inclusivo, rigoroso e transformador, capaz de reconhecer diferentes perspectivas, experiências subjetivas e saberes locais.

No contexto de pesquisa em Direitos Humanos, isso implica, por exemplo:

  • Avaliar como estruturas de poder e privilégios sociais influenciam a coleta e interpretação de dados;

  • Garantir que as vozes das pessoas e comunidades estudadas sejam respeitadas e integradas no processo de produção do conhecimento;

  • Promover reflexão ética contínua sobre o impacto da pesquisa, tanto nos participantes quanto na sociedade em geral.

A autocrítica bachelardiana é um princípio epistemológico e ético central, que fortalece a postura do pesquisador como agente responsável, capaz de produzir conhecimento rigoroso, crítico e socialmente relevante, evitando reproduzir injustiças ou vieses institucionais.

3.7 Conexão com Metodologias Participativas

A abordagem de Bachelard, ao enfatizar ruptura epistemológica e autocrítica, também aponta para a necessidade de transformar a relação entre pesquisador e objeto de estudo. Em vez de produzir conhecimento de forma unilateral, o pesquisador é chamado a dialogar com os sujeitos e comunidades envolvidos, reconhecendo suas experiências, saberes e perspectivas.

Essa perspectiva fundamenta as metodologias participativas, nas quais as comunidades afetadas pelos direitos humanos desempenham um papel ativo na produção do conhecimento. Diferente de uma abordagem tradicional, em que o pesquisador coleta dados de forma distante, as metodologias participativas:

  1. Transformam o conhecimento em co-construído: os participantes contribuem com suas percepções, experiências e práticas, enriquecendo o processo investigativo;

  2. Promovem consciência crítica e emancipatória: ao participarem da pesquisa, os sujeitos não são apenas objetos de estudo, mas agentes ativos que podem refletir sobre sua própria realidade e gerar mudanças;

  3. Reduzem hierarquias entre pesquisador e comunidade: o saber deixa de ser imposto e passa a ser negociado, validado e construído de forma conjunta, incorporando diversidade de perspectivas.

Sob a luz de Bachelard, esse enfoque participativo não é apenas uma estratégia metodológica, mas também epistemológica e ética. Ele reforça a ideia de que o conhecimento científico deve ser reflexivo, autocrítico e aberto a múltiplas fontes de saber, evitando reproduzir vieses ou estruturas de poder.

No contexto dos Direitos Humanos, isso significa que projetos de pesquisa ou intervenções sociais:

  • Escutam e valorizam experiências subjetivas e comunitárias;

  • Incorporam saberes locais e contextuais, que muitas vezes desafiam interpretações normativas ou centralizadas;

  • Produzem resultados mais relevantes e socialmente transformadores, capazes de informar políticas públicas, práticas institucionais e ações coletivas com maior legitimidade e impacto.

O pensamento bachelardiana legitima e fortalece metodologias participativas, mostrando que o conhecimento só é realmente robusto quando co-construído, crítico e ético, promovendo tanto rigor epistemológico quanto justiça social.

3.8 Ciência como Prática Ética e Emancipatória

Para Gaston Bachelard, a ciência não se limita à descrição objetiva da realidade; ela é também uma prática transformadora, capaz de reformular conceitos, relações e estruturas sociais. O avanço do conhecimento científico depende da ruptura epistemológica, da imaginação crítica e da reflexão ética — todos elementos que conectam a produção do saber à responsabilidade social do pesquisador.

No contexto dos Direitos Humanos, essa visão implica que a ciência deve ser usada como instrumento de emancipação e justiça social. O conhecimento produzido não é neutro: pode tanto fortalecer hierarquias e desigualdades quanto promover equidade, inclusão e reconhecimento de vozes historicamente marginalizadas. Assim, adotar uma perspectiva bachelardiana exige que os pesquisadores:

  1. Reconheçam o impacto social de sua pesquisa: compreender que o saber influencia políticas, práticas institucionais e a vida de pessoas e comunidades;

  2. Evitem reproduzir discriminações e preconceitos: adotar uma postura autocrítica, identificando e corrigindo vieses que possam privilegiar determinados grupos ou perspectivas;

  3. Utilizem o conhecimento para transformação: mais do que descrever fenômenos, a ciência deve contribuir para mudanças sociais que ampliem direitos, reduzam desigualdades e promovam participação cidadã.

Bachelard enfatiza que a ciência não é neutra nem passiva; ela deve ser entendida como uma prática ética, na qual o rigor epistemológico e a responsabilidade social caminham juntos. A pesquisa científica, quando orientada por esses princípios, torna-se emancipatória, capaz de gerar conhecimento crítico, inclusivo e socialmente relevante.

A perspectiva bachelardiana reforça que conhecimento e ética são indissociáveis. A ciência só cumpre seu papel transformador quando se preocupa com a justiça, a equidade e a inclusão, produzindo resultados que respeitam, valorizam e potencializam comunidades e indivíduos historicamente marginalizados.

3.9 Ruptura com Paradigmas Hegemônicos

Gaston Bachelard alerta que o conhecimento, em qualquer área, pode se tornar cristalizado em paradigmas que limitam a inovação e bloqueiam a compreensão crítica da realidade. Esses paradigmas surgem quando conceitos, teorias ou práticas são assumidos como definitivos e incuestionáveis, criando uma espécie de “zona de conforto epistemológico” que inibe novas perguntas, ideias e interpretações.

No contexto científico, Bachelard chama atenção para os “obstáculos epistemológicos”, que podem ser tanto psicológicos quanto sociais, e que impedem o avanço do saber. Ele enfatiza que romper com essas estruturas cristalizadas é uma condição indispensável para o progresso do conhecimento, pois apenas a ruptura permite a emergência de teorias mais adequadas à realidade observada.

Quando aplicado aos Direitos Humanos e ao campo jurídico, esse princípio adquire relevância prática:

  1. Questionamento de normas e discursos estabelecidos: paradigmas cristalizados podem manter práticas jurídicas, políticas e sociais que excluem vozes minoritárias ou ignoram experiências históricas de marginalização;

  2. Criação de espaço para inovação crítica: ao desafiar convenções e interpretações rígidas, pesquisadores e ativistas podem propor soluções mais inclusivas, justas e contextualmente adequadas;

  3. Promoção de justiça social: romper paradigmas hegemônicos permite que o conhecimento e as práticas institucionais se tornem instrumentos de emancipação, incorporando múltiplas perspectivas e experiências subjetivas.

Além disso, a ruptura com paradigmas não é apenas teórica, mas epistemológica e ética. Ela exige que o pesquisador:

  • Reconheça os limites de suas próprias concepções;

  • Reflita sobre como estruturas de poder moldam a produção do conhecimento;

  • Esteja disposto a substituir ideias cristalizadas por alternativas mais rigorosas e inclusivas.

Bachelard mostra que a inovação crítica e a justiça social dependem da capacidade de romper com paradigmas hegemônicos. No campo dos Direitos Humanos, essa ruptura permite que o conhecimento se torne mais reflexivo, inclusivo e transformador, abrindo caminho para práticas sociais e jurídicas que valorizem efetivamente a diversidade, a equidade e a participação de todos os sujeitos.


4. Relação com a Psicanálise

Embora Bachelard não tenha sido psicanalista, seu trabalho dialoga profundamente com a psicanálise, especialmente com autores como Sigmund Freud, Carl Gustav Jung e Pierre Janet (Bachelard, 1942, 1943; Freud, 1900; Jung, 1934; Janet, 1889). Ele recorreu a conceitos de sonhos, símbolos e arquétipos para analisar a imaginação, mostrando que mesmo na ciência os elementos subjetivos e simbólicos não são meramente acessórios, mas estruturam o pensamento e a criatividade científica.

Para Bachelard, a psicanálise fornece referências conceituais para compreender a subjetividade, oferecendo ferramentas para investigar como imagens, memórias e sonhos influenciam a percepção e a construção do conhecimento. No entanto, ele ressalta que tais conceitos não devem ser aplicados clinicamente: a função da psicanálise, na perspectiva bachelardiana, é analítica e epistemológica, não terapêutica. Essa distinção permite aproximar a filosofia da ciência de áreas como literatura, artes, psicologia e educação, abrindo espaço para um entendimento mais amplo da experiência humana (Morin, 1990).

A influência psicanalítica reforça a ideia de que a imaginação científica não é arbitrária, mas organizada por mecanismos internos de significação que dialogam com experiências afetivas e simbólicas. Por exemplo, ao estudar a poética da água ou do ar, Bachelard demonstra que imagens naturais evocam respostas emocionais e cognitivas, que moldam a forma como cientistas e indivíduos compreendem o mundo (Bachelard, 1942; 1943).

Para pesquisadores em Direitos Humanos, essa perspectiva oferece instrumentos teóricos para entender a subjetividade de sujeitos historicamente marginalizados, as dimensões simbólicas das normas jurídicas e a construção de identidades sociais. A psicanálise, nesse contexto, permite refletir sobre traumas coletivos, memórias ancestrais e experiências sociais, que influenciam a forma como grupos percebem e vivenciam direitos e injustiças (Freud, 1900; Jung, 1934). Assim, a abordagem bachelardiana fortalece práticas de pesquisa sensíveis à dimensão subjetiva, ética e poética da experiência humana, sem perder rigor científico (Janet, 1889; Morin, 1990).



5. Educação e Método Científico

Bachelard aplicou suas ideias na educação científica, defendendo que ensinar ciência não se limita a transmitir informações ou fórmulas, mas exige apoiar os estudantes na superação de ideias pré-concebidas, intuitivas ou socialmente enraizadas (Bachelard, 1938; Piaget, 1970). Esse processo implica um trabalho de conscientização crítica, no qual o estudante é estimulado a confrontar suas crenças e percepções habituais, reconhecendo a necessidade de ruptura epistemológica como condição para o verdadeiro avanço do conhecimento.

Essa abordagem teve grande impacto em teóricos contemporâneos da educação, como Philippe Meirieu, que enfatiza a importância de métodos pedagógicos que promovam reflexão crítica, autonomia intelectual e compreensão histórica dos conceitos científicos (Meirieu, 1999). Em sala de aula, por exemplo, professores podem propor experiências práticas que desafiem concepções errôneas sobre fenômenos físicos ou biológicos, como gravidade, eletricidade ou processos químicos, incentivando o estudante a reconstruir seu entendimento de forma crítica e reflexiva.

Além disso, a pedagogia bachelardiana dialoga com a formação em Direitos Humanos, pois promove a capacidade de questionamento das normas, discursos hegemônicos e práticas institucionais. Assim como na ciência, o avanço em Direitos Humanos exige superar “obstáculos epistemológicos” sociais e culturais — preconceitos, estereótipos ou conceitos cristalizados sobre justiça, cidadania e igualdade —, abrindo espaço para novas interpretações, práticas mais inclusivas e transformações institucionais. Nesse sentido, a educação científica crítica não se restringe à aquisição de conhecimento técnico, mas se converte em prática emancipatória, fomentando sujeitos capazes de pensar autonomamente e agir de forma ética e responsável na sociedade.



6. Interdisciplinaridade e Legado Contemporâneo

Bachelard enfatizou que a ciência não deve se isolar em compartimentos estanques, mas dialogar com outras áreas do conhecimento, como história, filosofia, literatura e psicologia (Bachelard, 1957; Morin, 1990). Para ele, a compreensão científica se enriquece quando incorpora múltiplas perspectivas, pois o conhecimento não é apenas técnico ou formal, mas também cultural, simbólico e histórico. Essa abordagem interdisciplinar contribui para a formação de pesquisadores capazes de perceber relações complexas entre fenômenos, reconhecer vieses epistemológicos e articular diferentes formas de saber.

No contexto educacional, essa perspectiva permite que professores estimulem os estudantes a integrar conceitos científicos com experiências culturais, poéticas e sociais, promovendo reflexão crítica e pensamento independente (Meirieu, 1999). Por exemplo, discutir fenômenos físicos a partir de metáforas literárias ou de narrativas históricas ajuda a superar obstáculos epistemológicos, tornando o aprendizado mais significativo e duradouro.

O legado de Bachelard se mantém vivo em diversas áreas contemporâneas: filosofia da ciência, educação, psicologia, sociologia e métodos de pesquisa. Ele inspira abordagens que valorizam a experimentação crítica, a imaginação e a criatividade na construção do conhecimento. Em pesquisa científica, a interdisciplinaridade bachelardiana reforça que aprender e investigar é um processo contínuo de desconstrução e reconstrução, no qual é essencial romper com preconceitos, concepções prévias e dogmas intelectuais, permitindo uma produção de conhecimento mais ampla, reflexiva e socialmente relevante.

Em síntese, a interdisciplinaridade não é apenas uma estratégia metodológica, mas um princípio epistemológico central: aprender, pesquisar e inovar exige abrir-se a múltiplos campos do saber, reconhecendo que a ciência está inserida em contextos culturais, históricos e simbólicos que condicionam sua evolução.


7. Recepção Crítica

Apesar do reconhecimento da relevância de suas ideias, a obra de Bachelard não escapou de críticas. Alguns autores apontam um excesso de abstração, que torna a aplicação prática de conceitos centrais, como os obstáculos e as rupturas epistemológicas, mais complexa e, por vezes, distante da experiência cotidiana da ciência (Kuhn, 1962). Além disso, a intersecção entre ciência e poética foi questionada por filósofos da ciência analítica, que viram nessa aproximação um risco de diluição do rigor científico, sugerindo que a valorização da imaginação poderia enfraquecer a objetividade do conhecimento.

Outro ponto crítico é a normatividade do conhecimento, isto é, a tendência de Bachelard indicar como a ciência deveria evoluir, em vez de se limitar a descrever historicamente sua trajetória, o que, segundo alguns, poderia implicar uma prescrição excessiva do desenvolvimento científico (Barros, 2010). Por fim, seu enfoque predominante nas ciências naturais limita, em certa medida, a aplicação direta de suas ideias às ciências humanas e sociais, embora os princípios epistemológicos propostos ainda inspirem reflexões mais amplas.

Mesmo assim, essas críticas não diminuem a originalidade e a amplitude do pensamento bachelardiano. Ao desafiar concepções consolidadas, integrar razão e imaginação e propor um método de reflexão crítica sobre o conhecimento, Bachelard continua a influenciar pesquisadores e educadores, oferecendo ferramentas valiosas para pensar a ciência, a criatividade e, especialmente, práticas interdisciplinares e emancipatórias.


8. Contribuições de Gaston Bachelard para Pesquisadores em Direitos Humanos

A obra de Gaston Bachelard oferece ferramentas conceituais valiosas para pesquisadores de Direitos Humanos, especialmente no que se refere à análise crítica, à metodologia e à compreensão da experiência humana. Seus conceitos de obstáculos epistemológicos e ruptura epistemológica permitem que pesquisadores identifiquem e superem preconceitos, ideias pré-concebidas e narrativas hegemônicas, possibilitando uma investigação mais ética e profunda (Bachelard, 1938; Morin, 1990).

Em contextos de pesquisa sobre violações de direitos, a identificação de obstáculos epistemológicos é crucial para não reproduzir interpretações simplistas ou enviesadas. Por exemplo, ao estudar a violência institucional contra populações marginalizadas, é necessário questionar pressupostos históricos que naturalizam a desigualdade e invisibilizam experiências de sofrimento. Nesse sentido, a epistemologia bachelardiana contribui para a construção de um conhecimento crítico, reflexivo e historicamente situado, essencial para a prática em Direitos Humanos.

A ideia de ruptura epistemológica também se mostra útil ao propor novas abordagens metodológicas e conceituais. Pesquisas em Direitos Humanos muitas vezes exigem reestruturar paradigmas de análise, incorporando saberes comunitários, práticas ancestrais ou perspectivas subjetivas, que podem desafiar interpretações jurídicas tradicionais. Assim, a ciência do direito e a pesquisa social se beneficiam da visão bachelardiana de que o conhecimento avança por saltos e transformações, não apenas por acumulação de informações.

No contexto contemporâneo, a ruptura epistemológica tem implicações diretas para qualquer campo investigativo, incluindo os Direitos Humanos. Pesquisadores que incorporam essa perspectiva são levados a:

  • Questionar normas, práticas institucionais e discursos considerados imutáveis;

  • Valorizar múltiplas perspectivas e saberes, incluindo experiências subjetivas e comunitárias;

  • Reconhecer que o conhecimento não é neutro, mas tem papel transformador, contribuindo para justiça social e inclusão.

A interdisciplinaridade, outro pilar do pensamento de Bachelard, oferece uma base teórica para integrar Direito, sociologia, antropologia, psicologia e literatura na análise de experiências humanas complexas. Pesquisadores podem, por exemplo, combinar relatos orais, documentos legais e narrativas simbólicas para compreender melhor a dimensão cultural e emocional das violações de direitos (Bachelard, 1957; Berger, 1956). Essa integração enriquece a produção de conhecimento, tornando-a mais sensível às múltiplas dimensões da experiência humana.

Outro aspecto relevante é a epistemologia da imaginação, que permite compreender que a percepção da realidade social não se limita a dados objetivos ou normativos. Bachelard ensina que imaginação, sonhos e metáforas estruturam a experiência humana, oferecendo uma lente para interpretar experiências de sofrimento, resistência ou memória coletiva (Bachelard, 1942, 1943). Para pesquisadores de Direitos Humanos, isso significa que a análise de relatos, narrativas e expressões culturais é tão significativa quanto a análise jurídica formal, pois revela dimensões da vida que frequentemente permanecem invisíveis.

Além disso, a abordagem bachelardiana contribui para a formação ética do pesquisador, incentivando a autocrítica constante e a consciência sobre vieses e preconceitos. Pesquisadores em Direitos Humanos devem refletir sobre sua posição social, ética e metodológica, evitando reproduzir relações de poder injustas ou marginalizar experiências humanas. A reflexão crítica e a sensibilidade poética de Bachelard fornecem, assim, fundamentos para uma pesquisa mais humana, responsável e inovadora.


9. Comentário sobre “A Filosofia do Não” – Pedro Demo (2025)

O ensaio de Pedro Demo, “A Filosofia do Não”, apresenta uma leitura clara e detalhada do legado de Bachelard, destacando a dimensão epistemológica do “não” como princípio central da ciência crítica e da educação científica. Para Demo, o “não” não é mera negação, mas instrumento de ruptura criativa, capaz de desestabilizar concepções cristalizadas e abrir espaço para o novo espírito científico (Bachelard, 1938, 1940). Esse enfoque é especialmente relevante para pesquisadores em Direitos Humanos, pois estimula o questionamento de normas, práticas e discursos consolidados, incentivando uma postura crítica diante de estruturas de poder e injustiças históricas.

Demo ressalta que a ciência avança por rupturas epistemológicas, superando obstáculos internos e desafios do senso comum, o que dialoga diretamente com a perspectiva decolonial e emancipatória em Direitos Humanos. Ao enfatizar a necessidade da diversidade cognitiva e do dissenso construtivo, o autor reforça a importância de incluir vozes minoritárias e saberes marginalizados nas pesquisas, evitando o risco de reproduzir vieses, “câmaras de eco” ou monoculturas de pensamento. A crítica à ingenuidade do positivismo e à ilusão de verdades absolutas complementa essa abordagem, mostrando que a ciência (e, por extensão, o conhecimento jurídico e social) não pode ser encarada como um repositório fechado de certezas, mas como um processo dinâmico, revisável e ético.

Além da dimensão crítica, Demo destaca o lado poético de Bachelard, apontando a relevância da imaginação e do devaneio na construção do conhecimento. Essa dimensão amplia a compreensão dos Direitos Humanos ao reconhecer a experiência subjetiva, simbólica e cultural dos sujeitos, permitindo análises que integram razão e sensibilidade, lógica e imaginação. A dialética entre corte epistemológico e imaginação poética, conforme Demo, fortalece a ideia de que emancipação e justiça social exigem tanto crítica rigorosa quanto capacidade de imaginar alternativas possíveis e inovadoras.

Em síntese, a leitura de Pedro Demo enfatiza que a filosofia do “não” bachelardiana oferece ferramentas metodológicas e éticas para pesquisadores de Direitos Humanos: cultivar o questionamento, valorizar a diversidade de perspectivas, reconhecer limitações do conhecimento vigente e integrar rigor científico com sensibilidade poética. Esse legado reforça que a produção do saber em Direitos Humanos deve ser sempre dialógica, crítica e aberta, capaz de desconstruir injustiças e propor caminhos novos para a emancipação coletiva.


10. Críticas e Limites do Pensamento de Bachelard

Apesar do impacto duradouro de suas ideias, a obra de Bachelard não esteve isenta de críticas, tanto em seu contexto histórico quanto na contemporaneidade. No passado, uma das principais críticas dizia respeito ao excesso de abstração de conceitos como obstáculos epistemológicos e rupturas científicas, que dificultava sua aplicação prática no ensino e na análise de casos científicos concretos (Kuhn, 1962). Essa complexidade conceitual tornou o pensamento bachelardiano acessível sobretudo a pesquisadores com formação filosófica sólida, restringindo sua difusão mais ampla.

Outra crítica histórica aponta para a mistura de ciência e poética, que alguns filósofos da ciência analítica consideraram problemática, por supostamente diluir o rigor científico (Barros, 2010). Ao enfatizar simultaneamente o rigor epistemológico e a imaginação poética, Bachelard desafiava fronteiras disciplinares, mas gerava incertezas quanto à validade metodológica de certas interpretações.

A normatividade do conhecimento também foi questionada. Para Bachelard, a ciência deveria evoluir por meio de rupturas e reconstruções, sugerindo um modelo ideal de progresso científico. Críticos destacaram que essa abordagem prescritiva poderia obscurecer a descrição histórica do desenvolvimento científico, impondo uma visão normativa sobre como a ciência “deveria” se comportar, em vez de limitar-se a descrevê-la (Barros, 2010).

Além disso, o foco nas ciências naturais limitava a aplicabilidade direta de seus conceitos às ciências humanas e sociais. Conceitos como corte epistemológico ou obstáculos epistemológicos, desenvolvidos para a física, química ou matemática, exigem adaptações cuidadosas para análises históricas, sociológicas ou jurídicas.

No presente, críticas contemporâneas ressaltam a necessidade de contextualizar Bachelard frente a um mundo científico e social mais diverso. Seu racionalismo cartesiano, ainda presente em certos aspectos, pode ser visto como insuficiente diante das epistemologias contemporâneas que incorporam perspectiva decolonial, pluricultural e interdisciplinar. Além disso, a centralidade da ciência formal pode subestimar a importância de saberes locais, tradições orais e práticas sociais que constituem conhecimento válido, sobretudo em pesquisas em Direitos Humanos e políticas sociais.

Apesar dessas limitações, o pensamento de Bachelard continua relevante. Sua ênfase na ruptura crítica, na superação de preconceitos epistemológicos e na integração entre rigor e imaginação oferece ferramentas conceituais valiosas para pesquisadores que buscam compreender a ciência e o conhecimento como processos dinâmicos, históricos e abertos à transformação. Assim, mesmo frente às críticas, Bachelard permanece um marco na filosofia da ciência e na educação científica, inspirando reflexão crítica e interdisciplinaridade.


Conclusão

A obra de Gaston Bachelard permanece extremamente relevante para pesquisadores em Direitos Humanos, pois oferece conceitos e metodologias que estimulam uma análise crítica, ética e interdisciplinar da realidade social. Seus conceitos de obstáculos epistemológicos e ruptura epistemológica ensinam que o conhecimento não é linear nem neutro; ele é historicamente construído, sujeito a preconceitos e pressupostos que precisam ser identificados e superados (Bachelard, 1938; Morin, 1990).

Ao aplicar essas ideias ao campo de Direitos Humanos, os pesquisadores aprendem a questionar narrativas hegemônicas, integrar saberes diversos e valorizar experiências subjetivas, ampliando a compreensão das múltiplas dimensões da violação e proteção de direitos. A ênfase de Bachelard na imaginação poética e na análise simbólica permite que pesquisadores interpretem relatos, memórias e expressões culturais de forma mais profunda, reconhecendo aspectos emocionais e simbólicos que escapam à análise puramente legal ou normativa (Bachelard, 1942, 1957).

Além disso, sua perspectiva interdisciplinar reforça a necessidade de dialogar entre Direito, história, sociologia, antropologia e psicologia, promovendo pesquisas mais ricas, contextualizadas e sensíveis à diversidade de experiências humanas. A atenção à formação ética do pesquisador, inspirada em Bachelard, contribui para práticas investigativas que respeitam os sujeitos estudados, evitando reproduzir estruturas de poder injustas ou invisibilizar grupos marginalizados.

Bachelard oferece aos pesquisadores de Direitos Humanos não apenas ferramentas conceituais para analisar e compreender o conhecimento científico, mas também princípios metodológicos e éticos que orientam uma investigação crítica, reflexiva e humanizada. Seu legado mostra que é possível unir rigor analítico, sensibilidade poética e consciência histórica na construção do saber, consolidando sua obra como referência indispensável para a pesquisa contemporânea em Direitos Humanos.


Referências

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Entrevista com Bachelard 

Une Vie, une œuvre : Gaston Bachelard, une enfance parmi les eaux (1884-1962)


Como citar: 

CASTRO, Vanessa Maria de. Gaston Bachelard (1884–1962): Vida, obra e legado na filosofia da ciência. Blog: Palavra em Transe, outubro 2025. Disponível em: https://palavraemtranse.blogspot.com/2025/10/gaston-bachelard-18841962-vida-obra-e.html. Acesso em: 07 out. 2025.




Autora: 

Sou Vanessa Maria de Castro, professora da Universidade de Brasília e psicanalista. Neste ensaio, reflito sobre Gaston Bachelard, filósofo e epistemólogo francês cuja obra influenciou profundamente a filosofia da ciência, a educação, a literatura e a psicologia. Nascido em Bar-sur-Aube em 27 de junho de 1884, em uma família de classe média, Bachelard iniciou sua trajetória acadêmica como físico, obtendo doutorado em Física em 1927. A experiência com ciências naturais forneceu-lhe uma base sólida para refletir sobre os processos de construção do conhecimento, permitindo-lhe formular conceitos inovadores como obstáculos epistemológicos e ruptura epistemológica (Bachelard, 1938, 1940). Este ensaio constitui uma contribuição para pensar a obra de Bachelard na aula de Métodos e Técnicas da Pesquisa para os alunos de mestrado e doutorado do PPGDH/UnB.



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