No Kings: Mobilização Popular Contra o Autoritarismo de Trump
Fonte: Alyssa Pointer / Reuters
No Kings: Mobilização Popular Contra o Autoritarismo de Trump
Vanessa Maria de Castro
Brasília, 19 de outubro de 2025
Introdução
No sábado, 18 de outubro de 2025, os Estados Unidos testemunharam uma das maiores mobilizações populares da história recente. Sob o lema No Kings, milhões de cidadãos ocuparam ruas e praças em mais de 2.600 cidades e vilarejos, expressando seu repúdio a uma percepção crescente de autoritarismo no governo de Donald Trump. A dimensão inédita da mobilização reflete não apenas a insatisfação política, mas também o engajamento social em defesa de valores democráticos e do espaço público.
Espalhados por todo o país, os protestos evidenciaram a oposição a políticas autoritárias e à centralização de poder, bem como a capacidade de organização suprapartidária da sociedade civil. Marcadas por criatividade, humor e resistência pacífica, as manifestações constituíram um esforço coletivo para afirmar direitos fundamentais frente a um Executivo que busca consolidar poder de forma concentrada (THE VERGE, 2025; THE GUARDIAN, 2025). A reação direta do presidente, por meio de um vídeo gerado por inteligência artificial, reforça a tentativa de neutralizar e ridicularizar a contestação, inserindo os protestos em um contexto de conflito político, simbólico e midiático (PEOPLE, 2025).
O Movimento No Kings: Origem, Articulação e Mobilização Cidadã
O movimento No Kings surgiu em abril de 2025, inicialmente articulado pelo grupo progressista 50501 Movement, que cunhou o termo como resposta às políticas autoritárias do presidente Donald Trump. O movimento ganhou visibilidade com a realização do primeiro grande protesto em 14 de junho de 2025, conhecido como "No Kings Day", coincidindo com o aniversário de 79 anos de Trump e uma parada militar em celebração ao 250º aniversário do Exército dos Estados Unidos. Naquela data, ocorreram mais de 2.100 manifestações em todo o país, reunindo aproximadamente 5 milhões de pessoas (THE VERGE, 2025).
O No Kings não possui um líder formal único; ele foi encabeçado desde o início por uma coalizão de organizações da sociedade civil já atuantes em pautas progressistas e de defesa de direitos civis nos Estados Unidos. Entre os grupos mais ativos na coordenação inicial estão Indivisible, rede que organiza campanhas de resistência política local e nacional; MoveOn, plataforma de ativismo político online; ACLU (American Civil Liberties Union), atuando na proteção de direitos civis; e a Federação Americana dos Professores (American Federation of Teachers), mobilizando docentes e setores educacionais. Além disso, figuras públicas como Bernie Sanders, Stacey Abrams, Chuck Schumer e Nancy Pelosi deram visibilidade e legitimidade política às ações, garantindo abrangência nacional e diversidade de estratégias de protesto (THE ATLANTIC, 2025; PEOPLE, 2025).
O segundo grande evento do movimento ocorreu em 18 de outubro de 2025, quando mais de 2.700 protestos foram realizados em todos os 50 estados norte-americanos. Organizações do movimento estimaram a participação de cerca de 7 milhões de pessoas, consolidando a mobilização como uma das maiores manifestações de um único dia na história recente dos Estados Unidos (THE VERGE, 2025).
Essas ações foram organizadas por uma ampla coalizão de grupos progressistas, incluindo Indivisible, ACLU, MoveOn, Democratic Socialists of America, American Federation of Teachers, entre outros (WIKIPEDIA, 2025). O No Kings emergiu como uma resposta popular às tendências autoritárias do governo Trump, reafirmando valores democráticos, a participação cidadã e a separação de poderes nos Estados Unidos.
Principais Cidades com Maiores Mobilizações – “No Kings” (18 de outubro de 2025)
Segundo os organizadores, mais de 7 milhões de pessoas participaram, superando significativamente os 5 milhões que haviam se mobilizado em junho de 2025. Entre as cidades que registraram grandes concentrações de manifestantes, destacam-se:
Nova York, NY
A Times Square foi o epicentro de uma das maiores concentrações, com aproximadamente 100.000 manifestantes. Cartazes como “Nada é mais patriótico do que protestar” e “Resistir ao fascismo” foram exibidos, e muitos participantes estavam vestidos com fantasias infláveis, incluindo sapos e unicórnios, símbolos de resistência criativa (THE ATLANTIC, 2025).
Chicago, IL
Grant Park recebeu uma grande multidão, com estimativas de cerca de 250.000 participantes. A cidade, conhecida por seu ativismo político, foi palco de manifestações contra políticas de imigração e ações do ICE (THE ATLANTIC, 2025).
Washington, D.C.
A Pennsylvania Avenue foi tomada por milhares de manifestantes, incluindo discursos de líderes políticos como Bernie Sanders. O evento simbolizou um enfrentamento direto à concentração de poder no Executivo (THE ATLANTIC, 2025).
Portland, OR
Portland destacou-se pelo uso de fantasias infláveis e faixas simbólicas, refletindo a resistência artística contra políticas autoritárias, consolidando sua tradição de protestos criativos (OPB, 2025).
São Francisco, CA
Aproximadamente 50.000 pessoas participaram de manifestações em locais como o Embarcadero e o Civic Center, com apoio à Proposição 50, iniciativa contra o redesenho distrital impulsionado pelo Partido Republicano (ABC7 SAN FRANCISCO, 2025).
Seattle, WA
A cidade registrou participação significativa, estimada entre 120.000 e 175.000 pessoas, refletindo seu histórico de ativismo político (THE ATLANTIC, 2025).
Los Angeles, CA
Em Los Angeles, manifestantes se reuniram em locais como o Grand Park e o Edifício Federal, com participação de até 30.000 pessoas, reforçando o caráter urbano e diversificado dos protestos (THE ATLANTIC, 2025).
Atlanta, GA
Atlanta tem se destacado pelo ativismo local, especialmente em relação ao movimento "Stop Cop City", que se opõe à construção de um centro de treinamento policial no South River Forest (THE ATLANTIC, 2025).
Midland, MI
Cerca de 1.400 pessoas participaram de um protesto com temas históricos e culturais, incluindo apresentações musicais e discursos políticos (THE ATLANTIC, 2025).
Benzie County, MI
Benzie County organizou seu terceiro "No Kings Rally" do ano, com cerca de 1.000 participantes, demonstrando engajamento político em comunidades menores (THE ATLANTIC, 2025).
Outras Cidades com Participação Significativa
Dallas, TX: Milhares de pessoas se reuniram em áreas suburbanas como Frisco, Plano e McKinney, apesar da chuva (KERA NEWS, 2025).
Oregon: Tens de milhares de pessoas participaram de protestos em várias cidades, com destaque para o uso de fantasias infláveis e faixas simbólicas (OREGON CAPITAL CHRONICLE, 2025).
Big Rapids, MI: Mais de 500 manifestantes se reuniram em State Street e Perry Avenue, envolvendo diversas faixas etárias e grupos políticos (BIG RAPIDS PIONEER, 2025).
Tallahassee, FL: Grandes multidões se reuniram em frente ao antigo Capitólio da Flórida, refletindo descontentamento com políticas estaduais e federais (THE ATLANTIC, 2025).
O Movimento “No Kings” e a Resistência Democrática nos Estados Unidos (2025)
De acordo com diversas fontes, os protestos do movimento “No Kings”, realizados em 18 de outubro de 2025, se caracterizaram pela paz e criatividade, incluindo o uso de fantasias infláveis, faixas com slogans como “Nada é mais patriótico do que protestar” e “Resistir ao fascismo”, assinaturas coletivas em uma réplica gigante da Constituição dos Estados Unidos em Seattle e expressões de ativismo artístico com cartazes espalhados em várias localidades (THE ATLANTIC, 2025; OPB, 2025).
As mobilizações demonstraram a amplitude e diversidade da oposição ao governo de Donald Trump. A presença de milhões de manifestantes em grandes centros urbanos como Nova York, Chicago e Washington, D.C., combinada à participação em cidades médias e pequenas, revelou que a resistência não se limita às tradicionais áreas progressistas, mas se expande para regiões historicamente menos ativas politicamente (THE ATLANTIC, 2025; KERA NEWS, 2025). Essa abrangência territorial reflete uma reorganização simbólica da esfera pública, na qual o protesto se converte em linguagem política e meio de reconstrução democrática.
Além da dimensão numérica, a variedade de estratégias de manifestação — desde atos pacíficos até performances artísticas e intervenções simbólicas — reafirma a capacidade da sociedade civil de mobilizar-se de maneira visível, criativa e inovadora (OPB, 2025; OREGON CAPITAL CHRONICLE, 2025). Essa pluralidade expressiva tem impacto direto na visibilidade midiática e na percepção pública da oposição, funcionando como instrumento de pressão frente à centralização de poder e às políticas de repressão.
O movimento “No Kings” articulou uma ampla gama de demandas por democracia, direitos civis e pluralidade política, demonstrando que, mesmo diante de um Executivo fortemente controlado, a população encontra canais de resistência e expressão que fortalecem o debate público e a participação cidadã (THE ATLANTIC, 2025). Trata-se de um movimento suprapartidário, resultado da articulação de organizações como Indivisible, MoveOn, ACLU e a Federação Americana dos Professores, unidas em torno da denúncia do uso excessivo do poder executivo, da militarização das cidades e da repressão a grupos liberais.
A amplitude do movimento se confirma também pelo apoio de figuras políticas de diferentes espectros ideológicos, entre elas Bernie Sanders, Chuck Schumer, Raphael Warnock, Stacey Abrams e Nancy Pelosi, cuja presença reforça a legitimidade institucional da resistência e seu caráter plural.
Os protestos de 18 de outubro evidenciam que o “No Kings” ultrapassa a dimensão de um simples ato político, convertendo-se em um fenômeno social de reconstrução democrática, no qual a arte, o corpo e a coletividade tornam-se formas de contestação e esperança pública.
No Kings: Estética, Resistência Simbólica e Crítica ao Patriarcado
A escolha do logotipo e da marca do evento, com a expressão No Kings, revela uma forma explícita de se posicionar contra a centralização de poder e a projeção de autoridade absoluta de Donald Trump. Ao afirmar No Kings, o movimento rejeita não apenas políticas específicas, mas também a ideia de poder concentrado em uma única figura, característica do patriarcado enquanto modelo de autoridade: uma estrutura hierárquica, vertical e centralizadora que sustenta a dominação, independentemente do gênero do líder (APPLEBAUM, 2020; FREEDMAN, 2025).
A expressão No Kings funciona como crítica ao que se pode denominar absolutismo moderno, em que o poder executivo é personificado e centralizado, evocando imagens de liderança imperial ou monárquica, ainda que dentro de um regime republicano. O movimento rejeita a ideia de poder personificado e hierárquico, propondo uma ruptura simbólica com a autoridade concentrada e com as estruturas patriarcais que tradicionalmente associam liderança a um modelo de poder vertical (FREEDMAN, 2025; APPLEBAUM, 2020).
Um dos aspectos mais marcantes do movimento No Kings é sua estética política, que combina humor, arte e performatividade para questionar o poder. Fantasias infláveis, como sapos gigantes e figuras caricatas, alongam, deformam e ironizam a imagem do líder, traduzindo visualmente a dissolução do poder absoluto diante da criatividade coletiva. Cartazes com slogans como “Nothing is more patriotic than protesting” ou “Resist fascism” articulam crítica direta e imagética, tornando a mensagem política mais acessível e impactante.
Além disso, “manifestações como a assinatura coletiva” de uma réplica gigante da Constituição dos EUA em Seattle ou a instalação de performances simbólicas em espaços públicos transformam a rua em um palco de contestação artística, unindo estética e política em um gesto de visibilidade e empoderamento coletivo. Essa estética lúdica e performativa serve tanto para atrair atenção midiática quanto para consolidar o imaginário público como território de resistência simbólica (JENSEN, 2020; KIMMEL, 2013).
A estética do movimento também contribui para subverter a autoridade patriarcal: ao transformar símbolos de dominação em objetos de humor, crítica e engajamento artístico, o movimento evidencia que a hierarquia vertical e concentrada pode ser questionada e desestabilizada, mesmo de forma não violenta. O uso da performance, da ironia e da arte de rua constrói uma narrativa visual de libertação simbólica, reforçando a participação cidadã e a contestação do poder centralizado (CONNEL, 2005).
O movimento articula uma crítica explícita ao patriarcado como modelo de autoridade concentrada, questionando a centralidade de um líder isolado como figura de poder incontestável. O gesto de recusa ao “rei” não se dirige apenas a uma pessoa ou gênero específico, mas ao modelo estrutural de liderança vertical e autoritária, demonstrando que resistência política envolve tanto contestação de políticas quanto desconstrução de formas simbólicas de poder (CONNEL, 2005; JENSEN, 2020).
O lema No Kings se consolida como um movimento que articula crítica política, contestação simbólica, resistência social e estética criativa. Ao rejeitar o arquétipo do soberano absoluto, o movimento reafirma a premissa republicana de que o poder legítimo emana do povo e deve permanecer nele, em toda a sua diversidade e pluralidade, transformando arte, performance e humor em instrumentos de visibilidade e subversão do poder patriarcal (APPLEBAUM, 2020; CONNEL, 2005).
No Kings: Resistência Simbólica e Estética contra a Violência Política no Imaginário Democrático
O vídeo divulgado por Donald Trump, produzido por inteligência artificial, no qual ele despeja resíduos sobre os manifestantes, representa uma forma inédita de violência simbólica no contexto democrático. Apesar da aparência grotesca e infantilizada, a cena revela a estrutura psíquica de um líder que fantasia o poder como ato de dominação absoluta, reduzindo o opositor à condição de dejeto. Esse gesto não é apenas provocação, mas encenação de um absolutismo regressivo, em que o poder se manifesta como gozo destrutivo e degradação do outro.
Do ponto de vista psicanalítico, o gesto de Trump de despejar resíduos sobre os manifestantes pode ser interpretado à luz do estágio anal descrito por Freud (1908). No estágio anal, a criança experimenta o controle sobre excrementos como primeira experiência de poder e domínio sobre o mundo. Freud, em Sobre o narcisismo: uma introdução (1914), descreve o bebê como objeto de projeção e idealização dos pais, chamando-o de “Sua Majestade, o Bebê”, refletindo a centralidade e o narcisismo da criança na dinâmica familiar. Lacan complementa, mostrando que, nesse estágio, o sujeito ainda não reconhece o limite simbólico, experimentando o gozo como força primária que busca dominar e reduzir o outro (LACAN, 1969-1970).
Ao despejar resíduos que lembram fezes sobre os manifestantes, Trump reproduz simbolicamente essas fantasias infantis de poder, transformando a política em espetáculo de degradação e humilhação. O ato reduz os opositores à condição de objeto descartável, negando-lhes dignidade e materializando uma forma de violência simbólica regressiva. É uma infantilização do poder, na qual a autoridade se manifesta de forma lúdica, grotesca e agressiva, reforçando a concentração e centralização do poder, como um líder que se coloca acima das instituições e normas democráticas.
A marcha No Kings, realizada em 18 de outubro de 2025, surge como resposta a essa regressão simbólica, restaurando o simbólico, a lei e o princípio do limite. Fantasias infláveis, caricaturas, cartazes e performances lúdicas transformam o medo e a intimidação em visibilidade, riso e engajamento coletivo. A ironia e a teatralidade funcionam como instrumentos de resistência psíquica e política, reinstalando a dimensão ética da ação pública.
Hannah Arendt oferece um quadro teórico para compreender essa dinâmica: a violência exibida pelo líder cria um espaço em que a política se corrompe pelo medo e pela dominação, corroendo a legitimidade do poder e substituindo o consenso pelo terror (ARENDT, 1970). O movimento No Kings restabelece o espaço de ação democrática, mostrando que o poder legítimo depende do reconhecimento mútuo, da participação cidadã e da responsabilidade ética pelo outro.
Essa dimensão ética é reforçada por Emmanuel Lévinas, que enfatiza a responsabilidade pelo outro e a inviolabilidade da dignidade humana. Ao reduzir os manifestantes a objetos desprezíveis, o gesto do líder viola radicalmente essa responsabilidade, tornando a resistência simbólica uma forma de reafirmação da dignidade e do valor do outro (LÉVINAS, 1961).
Além disso, o movimento articula uma crítica ao patriarcado como modelo de autoridade concentrada, subvertendo o poder personificado e reafirmando que a autoridade legítima emana do povo. A estética do movimento — humor, exagero, fantasia e ironia — transforma o espaço público em um palco de contestação e visibilidade coletiva, subvertendo símbolos de dominação e reforçando o imaginário democrático. Ao rir da autoridade degradante e ocupar o espaço de forma lúdica, os manifestantes demonstram que resistência simbólica e criatividade não são meros gestos lúdicos, mas instrumentos de reconstrução ética, psíquica e política da vida pública.
Assim, o lema No Kings consolida-se como um grito de libertação simbólica e ética, conectando psicanálise, filosofia política e estética da resistência. Ao recusar o arquétipo do soberano absoluto, o movimento reafirma a importância da vigilância democrática, da soberania popular e da proteção ética do outro, mostrando que a verdadeira autoridade não reside em um indivíduo acima da lei, mas na participação coletiva e na afirmação do humano em sua dignidade.
Análise da Cobertura Internacional dos Protestos No Kings contra Donald Trump (18 de outubro de 2025)
A cobertura internacional dos protestos No Kings refletiu diferentes linhas editoriais, evidenciando tendências políticas e posicionamentos frente aos eventos.
O jornal britânico The Guardian, de tendência progressista, destacou a participação de milhões de pessoas em mais de 2.600 cidades e vilarejos, enfatizando a diversidade dos manifestantes e a natureza pacífica das manifestações, que incluíram fantasias infláveis e faixas com mensagens de resistência política (THE GUARDIAN, 2025). Historicamente crítico ao governo Trump, o Guardian alinha-se com posições progressistas e defensoras dos direitos civis.
Nos Estados Unidos, o The Washington Post, de centro-esquerda, forneceu cobertura abrangente destacando eventos em Washington, D.C., Nova York e Chicago. O jornal enfatizou que os protestos foram amplamente pacíficos e organizados por mais de 200 grupos progressistas, incluindo o apoio de figuras políticas como Bernie Sanders e Stacey Abrams (THE WASHINGTON POST, 2025).
O The New York Times, também de centro-esquerda, focou na dimensão nacional dos protestos, observando a presença de participantes de todas as idades, incluindo veteranos militares, professores aposentados e idosos, que afirmaram estar defendendo os direitos constitucionais, em especial a Primeira Emenda (THE NEW YORK TIMES, 2025). O jornal também mencionou a retórica agressiva de alguns membros do Partido Republicano, que chamaram os protestos de “rally anti-América”.
O The Wall Street Journal, de linha conservadora, abordou os protestos destacando a oposição política e a percepção de autoritarismo do presidente Trump. Observou que os eventos ocorreram em mais de 2.500 cidades e vilarejos, destacando a resposta mista do Partido Republicano, com alguns líderes desqualificando os protestos e outros permanecendo em silêncio (THE WALL STREET JOURNAL, 2025).
O Axios, jornal norte-americano de centro, trouxe uma análise quantitativa, relatando mais de 2.700 eventos planejados em todos os 50 estados e destacando a coalizão de grupos progressistas que organizou as manifestações (AXIOS, 2025).
No cenário internacional, o Le Monde (França), de linha progressista, apresentou cobertura crítica ao governo Trump e aos impactos na democracia norte-americana (LE MONDE, 2025). De forma similar, o El País (Espanha), de tendência social-democrata, ressaltou a dimensão popular e pacífica dos protestos e a oposição ao autoritarismo (EL PAÍS, 2025).
Assim, os jornais analisados refletem tendências ideológicas claras: veículos progressistas e social-democratas enfatizam a mobilização popular e pacífica, criticando a concentração de poder de Trump, enquanto jornais conservadores ou de centro destacam a perspectiva de ordem, questionando o impacto político dos protestos sobre a estabilidade institucional.
Reações Políticas e Impacto Social dos Protestos No Kings (18 de outubro de 2025)
Reação de Donald Trump
Em resposta aos protestos No Kings que ocorreram em 18 de outubro de 2025, o presidente Donald Trump publicou um vídeo gerado por inteligência artificial em sua conta no Truth Social. No vídeo, Trump aparece pilotando um jato com a inscrição "King Trump", despejando um líquido marrom sobre os manifestantes em Times Square, enquanto a música "Danger Zone" toca ao fundo. Essa representação simbólica reforça a percepção de que o governo não esconde suas tendências autoritárias (PEOPLE, 2025).
Reações do Partido Republicano
O Partido Republicano manteve uma postura majoritariamente silenciosa diante dos protestos. Alguns membros, como o líder da Câmara, Mike Johnson, desqualificaram os manifestantes, enquanto outros permaneceram em silêncio, evitando comentar sobre os eventos (THE GUARDIAN, 2025). Johnson reiterou sua crítica aos protestos, rotulando-os como manifestações "anti-América" e associando-os a ideologias marxistas, apesar de reconhecer que as manifestações foram amplamente pacíficas (POLITICO, 2025).
Impacto Político e Social
Os protestos No Kings refletem uma crescente mobilização cidadã contra o governo de Trump, evidenciando uma resistência organizada e suprapartidária. A participação de milhões de pessoas em manifestações pacíficas demonstra um fortalecimento da oposição política e um compromisso com os valores democráticos fundamentais (THE VERGE, 2025).
Conclusão
Os protestos No Kings de 18 de outubro de 2025 consolidaram-se como um marco significativo na mobilização cidadã nos Estados Unidos, refletindo a resistência coletiva a tendências autoritárias percebidas no governo de Donald Trump. A ampla participação em milhares de cidades, combinada à diversidade de estratégias de protesto — que variaram da ocupação pacífica de espaços públicos à criatividade simbólica com fantasias, faixas e performances — evidencia a capacidade da sociedade civil de organizar-se de maneira suprapartidária e inovadora (THE VERGE, 2025; THE GUARDIAN, 2025).
A reação de Trump, por meio de um vídeo de inteligência artificial ridicularizando os manifestantes, aliada ao silêncio ou à crítica seletiva de membros do Partido Republicano, reforça a percepção de centralização de poder e da tentativa de neutralizar a contestação (PEOPLE, 2025; POLITICO, 2025). Entretanto, a resposta massiva da população demonstra que a legitimidade do poder permanece dependente do reconhecimento de limites institucionais e do respeito aos direitos democráticos.
Em síntese, os protestos No Kings não constituíram apenas uma reação política imediata, mas também um exercício de cidadania ética e simbólica. Ao combinar resistência, criatividade e visibilidade pública, os manifestantes reafirmaram valores fundamentais de soberania popular, pluralidade política e vigilância democrática, estabelecendo um precedente para futuras mobilizações e debates sobre o equilíbrio entre autoridade governamental e participação cidadã (REUTERS, 2025; NEWSWEEK, 2025; WALL STREET JOURNAL, 2025; AXIOS, 2025).
Referências
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Como citar:
CASTRO, Vanessa Maria de. No Kings: Mobilização Popular Contra o Autoritarismo de Trump. Blog: Palavra em Transe, outubro 2025. Disponível em: https://palavraemtranse.blogspot.com/2025/10/no-kings-mobilizacao-popular-contra-o.html. Acesso em: 19 out. 2025.
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Autoria:
Vanessa Maria de Castro, professora da Universidade de Brasília e psicanalista, apresenta neste ensaio uma análise sobre a mobilização popular contra o governo de Donald Trump, conhecida como movimento No Kings, enfatizando sua dimensão suprapartidária e o contexto de defesa de valores democráticos.
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