O Canto do Cerrado
O Canto do Cerrado
Vanessa Maria de Castro
Uma filha do Cerrado
Brasília, outubro de 2025
A lua, o sol e os grilos a cantar,
O final do dia é sinfonia no ar.
Os grilos anunciam a boa nova:
As chuvas vêm celebrar a vida que resiste.
Viver no Cerrado é
Um louvor à Terra.
O céu azul anil brilha em dias secos sem nuvens.
A Terra arde e racha, como um coração partido.
Os redemoinhos dançam em dias de brisa.
Um vermelho se espalha no céu.
Tudo se transforma em um grande deserto,
parece o fim dos tempos.
O fogo chega, como quem não quer nada, e devora tudo.
O céu fica tenso e vermelho de espanto.
O Cerrado range e estala,
Fagulhas dançam entre folhas secas.
Árvores tortas, cascas grossas,
Folhas secas e flores lindas figuram longe.
Cerrado é um campo de oração.
As flores desabrocham como presente na seca:
Pau-santo, rosa e branco,
Veludo nos lábios da chapada,
Perfume doce que seduz o vento —
O corpo da Terra suspira.
Sempre-viva, ouro e neve,
Pequena, resistente, quase secreta,
Sussurra promessas que não se quebram,
Se desfazem na boca do tempo.
Caliandra, pompom vermelho,
Aroma quente que chama abelhas,
Tato sedoso pulsando desejo nos galhos nus.
Ipês rosa, amarelo, roxo, alaranjado e branco,
Com seus segredos, escondidos, florescem sem medo.
Como promessas da Terra que se desdobram
Sob o céu do Cerrado,
Uma dança de cores que anuncia o dia,
Um espetáculo de brilho e esperança.
As flores no chão anunciam no fim do dia,
Transformam tudo em um tapete de oração.
Barbatimão, espiga branca,
Perfume de segredo antigo,
Veludo da pele da árvore
Que guarda cura e prazer.
Vassourinha-de-botão lilás,
Pequena, vibrante, quente,
Beija-flores e mãos que se aproximam
Sentem seu toque efêmero.
Murici amarelo, doce,
Pequi branco, pesado,
Fruto que esconde calor e seios perfumados.
Ciganinha roxa trepa,
Cobre a pele do Cerrado
Como amante que chega devagar,
Resiste à sede, ao tempo, à espera.
Cambuí, branco e visitado,
Jacarandá lilás, contrastando o solo seco,
Aroma que excita.
Pau-terra, rosa e lilás,
Canela-de-ema, roxa, lilás ou branca,
Explodem no ar
Como suspiros de amantes secretos.
E lá fora, a lua brilha.
Passeio entre este jardim do Éden.
Uma brisa fria sobra entre as flores,
Refresca o calor do dia.
A vida é simples:
Uma cigarra canta em busca de sua amada,
Dá a vida por ela,
Espera ser o escolhido para o amor eterno.
O Cerrado inteiro dança,
Flores e folhas giram no ar,
Os ipês e a terra vibram no ritmo do vento,
Que move os corpos da flora como amantes.
O céu se curva ao prazer da relva.
O canto da cigarra
É uma sinfonia do amor e da chuva.
Neste instante, o Sol se despede,
A lua anuncia sua chegada.
Dois astros no céu testemunhando
O canto da cigarra,
Em busca da amada.
As flores se fecham para dormir,
Tudo se acalma,
E mais um dia se foi
No Cerrado do Planalto Central.
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CASTRO, Vanessa Maria de. O Canto do Cerrado [Poema]. Blog Palavra em Transe. 12 de outubro de 2025. Brasília. Disponível em: https://palavraemtranse.blogspot.com/2025/10/o-canto-do-cerrado-vanessa-maria-de.html
Lindo, Vanessa! Parabéns!
ResponderExcluirLindo poema!!
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